Um quadro, um texto. Um texto motivado por um quadro? Antes um texto “dialogando” com um quadro — e que, através desse diálogo, não só o questiona e o provoca, mas também, ou sobretudo, o prolonga, o amplia, o completa, o transforma de pré-texto em pretexto de uma reflexão irradiante, de uma labiríntica meditação que em forma de rosácea se vai compondo para dessa mesma rosácea afinal sobressaírem as linhas de um auto-retrato.
… De que servem as bússolas num labirinto?
… À espera de mim desde sempre estou eu.
… A memória também é uma derrota.
Entre muitas outras, observações como estas, colhidas ao acaso no presente livro, fazem-nos ver como todo ele intimamente se articula com o volume anterior de Marcello Duarte Mathias — esse No Devagar Depressa dos Tempos, único espécime “diarístico” da literatura portuguesa mais recente — e ao mesmo tempo nos deixa antever a essencial e estrutural unidade sob cujo signo se confirma o percurso deste autor.