quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Lições de literatura com Jorge Luis Borges



E se tivesse a possibilidade de ouvir Jorge Luis Borges discorrer, com a sua voz pausada e culta, sobre livros, filosofia e literatura? Ler Sete Noites é como viajar no tempo até ao teatro Coliseo de Buenos Aires, em 1977, e ter o privilégio de assistir a um conjunto de sete palestras imperdíveis proferidas pelo escritor argentino, numa altura em que já tinha perdido a visão. É aqui que descobriremos o contexto de uma das muitas frases que o eternizaram: «Tinha sempre imaginado o Paraíso como uma espécie de biblioteca.»

Borges aborda alguns dos grandes temas que o fascinaram ao longo da vida: o Oriente e o Ocidente, As Mil e Uma Noites, o sonho e o pesadelo, a realidade e a ficção, a poesia, a Divina Comédia, a cabala, o budismo ou a cegueira – ouvindo-o confessar que perdeu a conta às vezes que leu a Divina Comédia, ou acompanhando o seu raciocínio sobre o papel dos sonhos: «E se os pesadelos fossem gretas do Inferno?» Podemos, com Borges, explorar o sentido do «livro infinito», cujo título «é um dos mais belos do mundo» e, por fim, em tom de confidência, ouvi-lo falar do lado íntimo da sua cegueira: «O mundo do cego não é a noite que as pessoas supõem.»

Sete Noites chega a 19 de setembro às livrarias, com tradução de José Colaço Barreiros, e dá continuidade à série de capas retiradas do tríptico As Tentações de Santo Antão, do pintor Hieronymus Bosch, exposto no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Sobre o Autor

Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899. Cresceu no bairro de Palermo, «num jardim, por detrás de uma grade com lanças, e numa biblioteca de ilimitados livros ingleses».  Em 1914 viajou com a família pela Europa, acabando por se instalar em Bruxelas, e posteriormente em Maiorca, Sevilha e Madrid. Regressado a Buenos Aires, em 1921, Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina. Em 1923, publicou o seu primeiro livro – Fervor de Buenos Aires –, mas o reconhecimento internacional só chegou em 1961, com o Prémio Formentor, seguido por inúmeros outros.  A par da poesia, Borges escreveu ficção (é sem dúvida um dos nomes maiores do conto ou da narrativa breve), crítica e ensaio, géneros que praticou com grande originalidade e lucidez.  A sua obra é como o labirinto de uma enorme biblioteca, uma construção fantástica e metafísica que cruza todos os saberes e os grandes temas universais: o tempo, «eu e o outro», Deus, o infinito, o sonho, as literaturas perdidas, a eternidade – e os autores que deixam a sua marca.  Foi professor de literatura e dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires entre 1955 e 1973. Morreu em Genebra, em junho de 1986.