Prémio Femina de Ensaio em França, a Contraponto publica, a 14 de outubro, o livro A Fábrica de Cretinos Digitais – Os Perigos dos Ecrãs Para os Nossos Filhos, da autoria de Michel Desmurget. Este livro importantíssimo explica por que razões este neurocientista francês afirmou recentemente, numa entrevista à BBC que se tornou viral, que os nativos digitais são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais. Após milhares de anos de evolução, o ser humano está agora a regredir em termos cognitivos e de capacidades intelectuais — por culpa da exposição excessiva a ecrãs.
O livro agora publicado pela Contraponto, que tem prefácio de Carlos Neto, especialista em motricidade humana infantil, dá conta, entre outros aspetos, de que o tempo que as novas gerações passam a interagir com smartphones, tablets, computadores e televisão é elevadíssimo. Aos 2 anos, as crianças dos países ocidentais consagram todos os dias quase três horas a ecrãs. Entre os 8 e os 12 anos, esse tempo aumenta para cerca de 4h45m. Entre os 13 e os 18, a exposição é em média de 6h45 diárias. Em termos anuais, são cerca de 1000 horas para um aluno do 1.º Ciclo do Ensino Básico (quase o mesmo número de horas de um ano escolar) e 1700 para um do 2.º Ciclo. Já para um aluno do 3.º Ciclo e do Secundário, falamos de 2400 horas anuais, o equivalente a um ano e meio de trabalho a tempo inteiro.
Ao contrário do que se pensava, a profusão de ecrãs a que os nossos filhos estão expostos está longe de lhes melhorar as aptidões. Na verdade, e tal como se explica em A Fábrica de Cretinos Digitais, verifica-se precisamente o oposto: acarreta consequências pesadas ao nível da saúde (obesidade, desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diminuição da esperança de vida), em termos de comportamento (agressividade, depressão, propensão para o risco) e no campo das capacidades intelectuais (linguagem, concentração e memorização). Tudo isto afeta gravemente o rendimento escolar dos jovens e o seu desenvolvimento.
Nesta obra tão pertinente como inquietante, que venceu o prémio para melhor ensaio em França, o neurocientista Michel Desmurget traça um cenário doloroso sobre os efeitos que esse consumo em excesso está a ter nos cérebros dos nossos filhos.