«A beleza sortílega do verso vergiliano (que, em latim, é música ao nível de Mozart) evapora-se por completo noutra língua. O melhor a que uma tradução pode aspirar é a ser uma pálida imagem, mais deslavada do que uma fotografia a preto-e-branco da Primavera de Botticelli». É assim que Frederico Lourenço descreve a missão de verter para português os sublimes poemas de Vergílio, «os mais intraduzíveis de todos os textos poéticos».
Trata-se de dez poemas aparentemente simples, escritos entre 41 e 39 a.C., mas cuja compreensão política, religiosa e estética permanece até hoje complexa e misteriosa. Este é um acontecimento cultural. Além da beleza do texto – que determinou, para Dante e para tantos outros, a própria estética da poesia pastoril –, as Bucólicas surpreenderam e deslumbraram, na altura, o mundo romano com a nova forma de expressão em língua latina.
As Bucólicas, de Vergílio, com tradução e comentários de Frederico Lourenço, que também já traduziu para português a Ilíada e a Odisseia, além de ter compilado uma Poesia Grega de Hesíodo a Teócrito, chega às livrarias a 7 de outubro, numa preciosa edição bilingue de capa dura. «A par da discussão de questões literárias, o comentário procura ajudar a resolver as dificuldades linguísticas presentes no texto latino, sem esquecer o intuito de mostrar, a quem saiba pouco ou nenhum latim, o porquê da beleza inefável desta poesia na língua original.»