terça-feira, 28 de setembro de 2021

A infâmia argentina pelos olhos de Jorge Luis Borges


É para um leitor tenebroso que Jorge Luis Borges escreve História Universal da Infâmia, um relato de personagens roubadas a Buenos Aires que consta como uma das suas obras mais importantes, quer do ponto de vista temático, quer do ponto de vista formal, misturando literatura, ficção pura, fontes clássicas, e até factos reais. A edição da Quetzal, que chega às livrarias a 7 de outubro, com tradução de José Bento, dá continuidade à série de novas capas retiradas do tríptico As Tentações de Santo Antão, do pintor Hieronymus Bosch, exposto no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Publicada pela primeira vez em 1935, a História Universal da Infâmia foi posteriormente revista pelo autor e aumentada em quatro textos, o que deu origem a todas as edições a partir de 1954. «O homem que o executou era bastante infeliz, mas divertiu-se a escrevê-lo; oxalá algum reflexo daquele prazer alcance os leitores», escreve o autor no prólogo da edição desse ano.

Jorge Luis Borges trabalha com biografias de ladrões e rufiões, personagens traiçoeiras e heroicas. São algumas das suas criações mais inesquecíveis em torno da vida e da morte em Buenos Aires: a viúva Ching, intrépida e sanguinária pirata; o inverosímil impostor Tom Castro; o atroz redentor Lazarus Morell ou «o homem da esquina rosada». Quadros de uma exposição da mitologia porteña: gente que fala uma linguagem perigosa, que caminha sobre as lâminas do abismo.

Sobre o Autor

Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899. Cresceu no bairro de Palermo, «num jardim, por detrás de uma grade com lanças, e numa biblioteca de ilimitados livros ingleses». Em 1914 viajou com a família pela Europa, acabando por se instalar em Bruxelas, e posteriormente em Maiorca, Sevilha e Madrid. Regressado a Buenos Aires, em 1921, Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina. Em 1923, publicou o seu primeiro livro – Fervor de Buenos Aires – mas o reconhecimento internacional só chegou em 1961, com o Prémio Formentor, seguido por inúmeros outros. A par da poesia, Borges escreveu ficção (é sem dúvida um dos nomes maiores do conto ou da narrativa breve), crítica e ensaio, géneros que praticou com grande originalidade e lucidez. A sua obra é como o labirinto de uma enorme biblioteca, uma construção fantástica e metafísica que cruza todos os saberes e os grandes temas universais: o tempo, «eu e o outro», Deus, o infinito, o sonho, as literaturas perdidas, a eternidade – e os autores que deixam a sua marca. Foi professor de literatura e dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires entre 1955 e 1973. Morreu em Genebra, em junho de 1986.