terça-feira, 28 de setembro de 2021

Romance satírico de Ma Jian ironiza sobre o idealismo totalitário da China


Comparado a Milan Kundera e considerado por Margaret Atwood uma espécie de «encontro entre os Guardas Vermelhos e Kurt Vonnegut», O Sonho da China, de Ma Jian, é muito mais que uma distopia sobre o país natal do autor. É um retrato vivo e irónico. «O Sonho da China nasceu da minha raiva contra as falsas utopias que escravizaram e infantilizaram a China a partir de 1949», explica Ma Jian, nascido em 1953 – curiosamente, o mesmo ano de nascimento de Xi Jinping, o presidente vitalício da China. Dois homens educados na mesma memória coletiva (os pais de ambos sofreram as perseguições e humilhações da Revolução Cultural); mas um deles é líder do país, enquanto o outro vive exilado e os seus livros estão proibidos na China.

Comédia e tragédia, sátira e parábola, este é um romance que ironiza sobre o idealismo totalitário da China. «As consequências das utopias são sempre distopias. Os ditadores tornam-se, invariavelmente, deuses que exigem ser adorados», escreve o autor no prefácio. «Os tiranos nunca se limitaram a controlar a vida das pessoas; sempre procuraram entrar-lhes na mente, moldando-a a partir de dentro.» O Sonho da China retrata essa realidade, contando a história de Ma Daode, diretor da Repartição do Sonho da China, um novo organismo que pretende substituir os sonhos privados e íntimos de cada pessoa pelo «grande sonho da China» anunciado no Plano de Rejuvenescimento Nacional» do presidente Xi Jinping. Tudo corre bem, até que os fantasmas do passado começam a assaltar Ma Daode.

Este livro é um passeio tragicómico pelos horrores e absurdos do poder totalitário. Ficção e realidade entrelaçam-se num retrato do país de contradições que é a China de hoje. Traduzido por Maria Marques, chega às livrarias a 7 de outubro.