domingo, 4 de abril de 2021

Cronica do Mário - Música a cores



Música a cores

1966, do outro lado do atlântico novas tendências emergem nas camadas jovens da sociedade Norte América, os Beatnicks e escritores da beat generation entre outros  como Gregory Corso, Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouac, dão lugar à revolução psicadélica, surgem “love in”, manifestações de amor universal que juntam milhares de jovens hippies. Assistem a espetáculos multidimensionais coloridos e carregados de musica experimental e nova. Destes acontecimentos marcantes há uma verdadeira corrente artística e social onde já se encontram nomes como Jefferson Airplane, e outros nomes que mais tarde serão referências de culto mundial. Esta onda tem feedback em Inglaterra com os seus jovens desejosos de mudança numa sociedade ainda muito conservadora. O consumo desta forma artística e cultural dá inicio a uma enorme revolução cultural e social que se repercutirá até aos dias de hoje.

Dos primeiros conjuntos revelados pela musica psicadélica está uma desconhecida banda, os Pink Floyd ainda, claro, sem este nome. 

As rádios pirata são nesta altura o meio de expressão mais poderoso desta geração pop britânica, os seus programas emitem esta nova musica que embala o movimento Hip, no coração londrino Kensigton Park Lane, Portobello Road, etc, é chamada de psychedelic music, tendo esses mesmos programas radiofónicos nomes bem sugestivos “Lucy Fruit Show” ou “Perfumed Garden” este último é para estes Beatnicks em Technicolor que são os Hippies. De salientar a musica beat que já há alguns anos tem vindo a desbravar mentes e a preparar toda esta geração absorvente e ávida de sessões noturnas com happenings e emissões de grandes nomes do momento, Beatles, Bob Dylan e conjuntos da West Coast dos Estados Unidos.

Quem então frequenta o underground Londrino fica surpreendido pela actividade dos hippies, que igualmente na costa Oeste americana, quer desesperadamente libertar-se do mundo então dos adultos.
Os Pink Floyd estão apenas nos primeiros meses de existência, e surgem na famosa UFO, uma discoteca, um clube de hippies que na sua inauguração apresenta várias formas de espetáculo como filmes underground de Andy Warhol e Yoko Ono, sessões de musica experimental, de audiovisual, enfim a provocação e o exagero ou o exótico.

A sua apresentação já não é nova e desde o verão de 1966 tem já seguidores impressionados pelas ideias revolucionárias desta banda, será esta a sua primeira grande noite hippie que Londres conheceu, a sua musica e uma encenação que se funde com o psicadélico.

Este fluido cor-de-rosa, ainda com 3 elementos, Waters, Wright, Mason na Primavera de 1966 decidiram-se associar a Syd Barret. Antes disto este trio chamava-se Architectural Abdabs, que ora mudava para Screaming Abdabs ou The T-Sets.

Estudantes de arquitectura na Escola Politécnica de Londres eram na verdade o aprendiz de baterista Nick Mason, o aprendiz de guitarra-baixo Roger Waters, o aprendiz de pianista/organista Richard Wright associados na altura a Clive Metcalf (baixo), Juliette Gale (voz) e Keith Noble (voz). Interpretam basicamente rhythm and blues, segundo declarações de Waters na altura a um jornal de Cambridge “O rock é apenas um ritmo (beat) sem expressão real. Pelo contrário temos de admitir que o rhythm’n blues está na base do rock original”.

Durante meses a sua musica invadirá a Londres noturna, separando-se sem muitas saudades dos 2 elementos homem da banda, enquanto Juliette Gale ficará no seio Abdabs. Virá a ser a Mulher de Rick Wright. Esta fase sente a falta de essência artística, com Syd Barret, o novo elemento, rapidamente este problema deixará de existir.

De facto Syd apresenta criatividade e ideias verdadeiramente artísticas criando um estimulo fundamental, as ideias são inovadoras pois Syd era estudante da Escola de Belas Artes de Camberwell e graças ao temperamente artístico de Syd Barret o conjunto pôde encontrar o caminho que mais tarde irá marcar a sua própria personalidade.

Durante 1966 aperfeiçoam-se tocando essencialmente em Cambridge onde se tornam numa gloria local, o reportório tem passagens de Bo Diddley, Rolling Stones e de clássicos de Blues, são descobertos por John Hopkins em Londres, atraído pela sua forma original de se apresentar em palco. São apaixonados pela ficção científica e pela electrónica, e desde cedo experimentam técnicas de Larsen e do Eco. Passam então o mês de Novembro aperfeiçoando um estilo em que se empenham a fundo, reconhecido dali em diante.

Dão um show famoso, uma grandiosa lição de áudio visual a um publico então arrebatador e delirante, tornam-se na Banda mais popular no underground Londrino, este espetáculo psicadélico intitulado “Music is Colour, Pink Floyd” é apresentado às 20 horas de Terça-feira de 17 de Janeiro no Commonwealth Institute, em Kensington High Street. O concerto ficou célebre no Reino Unido e veio dar notoriedade ao conjunto, a assistência era composta por personalidades que frequentavam os acontecimentos sociais de Londres, e que habitualmente não eram favoráveis a esta música que perturba os sentidos: musica colorida, multidimensional, mistura de sons e imagens com uma eficácia brilhante. Está encontrado uma nova forma de espetáculo, onde é necessário produzir um show completo em que a visão e o ouvido descubram mais do que o normal cinema ou televisão. O volume do som é elevado quase ao limite do suportável e as recentes técnicas de som (eco, distorção, efeito Larsen) são constantemente utilizadas numa busca preocupada de inovação. Tudo isto num ambiente alucinante em que estroboscópios, projecções rodopiantes, luz negra, projecções de luz florida são arrebatadoras. O publico está alienado e hipnotizado e segue cegamente o conjunto nestes verdadeiros Happenings. São já motivo de conversa e do que se vai dizendo de boca em boca da gentry Britânica.

1967, janeiro, fevereiro e março são ocasião para inúmeras aparições em rádios, espetáculos e televisão, que sucedem a um ritmo acelerado, são constantemente solicitados para todos os lados não tendo dias para descanso. Este entusiasmo é bem visível nos mass media Londrinos o nome Fluido Cor de Rosa é agora, sinónimo de exótico e de “viagem”, e é nesta onda que os Pink Floyd aproveitam para gravar e comercializar o seu primeiro 45 rotações com dois temas de Syd Barret, “Arnold Lane” e “Candy and a Current Bun”. Os jovens britânicos até então tinham ficado fortemente impressionados por uma criatura mística, Syd Barret, que emanava um magnetismo incontrolável, a sua personalidade perturbava a presença destes jovens, e eles gostavam disso.

As letras são bizarras, no entanto apaixonantes, a atitude de Syd e a sua roupa estranha, fetichista, hipnotizante.

Apresentação Mário Louro

Mário Louro é designer gráfico de profissão, mas tem na música uma das suas grandes paixões. Desde Abril de 2021 tem uma crónica mensal no "Cultura e Não Só" onde escreve sobre bandas, artistas ou discos que o marcaram.