Do calendário Juliano ao calendário Gregoriano
Ano Novo Vida Nova! Estando ainda no início do novo ano e sendo época de mudança de calendário, vem a propósito perceber como evoluiu o calendário ao longo dos tempos, até ao que hoje conhecemos e pelo qual nos regemos. O homem desde a pré-história ficou deslumbrado pela sucessão dos dias e das noites assim como pelo desenrolar das fases da Lua. Terão sido estes fenómenos que conduziram às noções de dia e de mês. Já a noção de ano é menos evidente e terá sido só com o desenvolvimento da agricultura que os povos primitivos se aperceberam do ciclo das estações.
As pesquisas indicam que o primeiro calendário terá surgido na Mesopotâmia, por volta de 2700 a.C., provavelmente entre os sumérios (primeiros povos a habitar a Mesopotâmia), e foi aprimorado pelos caldeus (povo semita do sul da Mesopotâmia). O calendário possuía 12 meses lunares (entenda o sistema Sol-Terra-Lua), de 29 ou 30 dias, e serviu de base para o adoptado pelos judeus. Como cada mês começava na Lua nova, o ano tinha 354 dias, ficando desfasado em relação ao calendário solar. Para resolver o problema, os caldeus acrescentavam um mês a cada três anos. O primeiro calendário solar terá sido criado pelos egípcios, em meados do terceiro milénio antes de Cristo. São, portanto, o dia, o mês lunar ou lunação e o ano os períodos astronómicos naturais utilizados em qualquer calendário. Os calendários primitivos do velho Continente, de que a História tem uma informação concreta, são por isso o hebreu e o egípcio. Ambos tinham um ano civil de 360 dias, curto para representar o ciclo das estações, mas grande para corresponder ao chamado "ano lunar", que se define como um período de tempo igual a 12 lunações completas existentes no ano trópico, ainda desconhecido. Nos primitivos calendários romanos, por exemplo, o ano tinha 304 dias distribuídos por 10 meses. Os 4 primeiros tinham nomes próprios dedicados aos deuses da mitologia romana e provinham de tempos mais remotos, em que, provavelmente, se aplicaram às 4 estações. Os 6 restantes eram designados por números ordinais, indicativos da ordem que ocupavam no calendário. O designado calendário de Rómulo foi reformulado por Numa Pompílius (753 a. C. - 673 a. C.), homem sábio e religioso, segundo rei de Roma, o qual, seguindo o exemplo dos gregos, estabeleceu o ano de 12 meses dedicados aos principais deuses pagãos, mas introduzindo em primeiro lugar o mês de Januarius, dedicado a Jano, e em último lugar o mês de Februarius, dedicado a Februa, ao qual os romanos ofereciam sacrifícios para expiar as suas faltas de todo o ano. Este foi o motivo por que o mês de Februarius foi colocado no fim. Até o ano 46 a. C., vigorava em Roma um calendário dividido em 355 dias, distribuídos em 12 meses. Essa estrutura do ano civil sofria um sério desajuste ao longo do tempo. Assim as estações do ano passavam a ocorrer em datas diferentes, porque o calendário não correspondia ao ano solar. As calendas, no antigo calendário romano, eram o primeiro dia de cada mês quando ocorria a Lua Nova. Havia três dias fixos: as calendas, as nonas (quinto ou sétimo dia, de acordo com o mês) e idos (13.º ou 15.º dia, conforme o mês). Dos idos é que provém a expressão "nos idos de setembro", expressando uma data para a segunda metade do mês.
No ano 46 a.C., o imperador Júlio César (100 a. C. - 44 a. C.), ditador da República Romana, na qualidade de pontífice máximo do Império, decidiu reformar o calendário para readequá-lo ao tempo natural. Nesse ano Júlio César, percebendo que as festas romanas marcadas para março (que era então o primeiro mês do ano), estavam a ocorrer em pleno Inverno, também pela falta da introdução de meses intercalares nos últimos 10 anos, preparou uma profunda reforma do calendário, seguindo de forma prática o modelo do calendário egípcio, com o conselho do astrónomo grego Alexandrino Sosígenes, da escola de Alexandria. Este foi chamado para que examinasse a situação e o aconselhasse nas medidas que deveriam ser adoptadas. Estudando o problema, Alexandrino Sosígenes observou que o calendário romano estava adiantado de 67 dias em relação ao ano natural ou ciclo das estações. Para desfazer essa diferença, Júlio César ordenou que naquele ano (708 de Roma, ou 46 a.C.), além do Mercedonius de 23 dias que correspondia intercalar naquele ano, fossem adicionados mais dois meses, um de 33 dias, outro de 34 dias, entre os meses de November e December. Resultou assim um ano civil de 445 dias, o maior de todos os tempos, único na história do calendário e conhecido pelo nome de Ano da confusão, pois, devido à grande extensão dos domínios de Roma e à lentidão dos meios de comunicação de então, nalgumas regiões a ordem foi recebida com tal atraso que já havia começado um novo ano. Foi então abolido o calendário lunar dos decênviros e adotou-se o calendário solar, ficando conhecido por Juliano, de Júlio César, começando a vigorar no ano 709 de Roma (45 a.C.), mediante um sistema que devia desenrolar-se por ciclos de quatro anos, com três comuns de 365 dias e um bissexto de 366 dias, a fim de compensar as quase seis horas que havia de diferença para o ano trópico. Suprimiu-se o Mercedonius e Februarius passou a ser o segundo mês do ano. Consequentemente, os restantes meses atrasaram uma posição, além da que já haviam atrasado na primeira reforma do calendário romano anterior designado de Rómulo reformulado por Numa Pompílio, com a consequente falta de sentido dos meses com designação ordinal. O valor médio do ano passou a ser de 365,25 dias e o equinócio da primavera deveria ocorrer por volta de 25 de março. A reforma juliana melhorou a situação, mas a desfasamento entre o ano do calendário e o ano natural permanecia, em consequência do movimento de elipse que a Terra faz ao redor do Sol. O calendário Juliano sofreu algumas modificações ainda mais em 8 d.C., pelo imperador Augusto (63 a.C. - 14 d. C.), e os nomes dos meses sofreram ainda várias mudanças ao longo do Império Romano. No século XV, por exemplo, o calendário Juliano já estava atrasado cerca de uma semana em relação ao Sol. O equinócio da primavera no Hemisfério Norte caía por volta de 12 de março, em vez do dia 21. Como já referido os nomes dos meses foram dedicados aos deuses pagãos romanos, e que foram conservados em outros idiomas até à actualidade, assim:
- Janeiro: Jano, deus romano de duas faces, considerado deus das portas, um "porteiro celestial", das passagens, inícios e fins. Daí justamente a entrada e início do ano.
- Fevereiro: Fébruo, deus etrusco da morte; Februarius (mensis), "Mês da purificação" em latim, parece ser uma palavra de origem Sabina (tibo da região da Península Itálica) e o último mês do calendário romano anterior a 45 a. C.. Relacionado com a palavra "febre".
- Março: Marte, deus romano da guerra. Neste mês começa a primavera no Hemisfério Norte, que era considerada uma ótima época para iniciar campanhas militares.
- Abril: O seu nome deriva do latim April, que significa abrir, numa referência à germinação das culturas. Outra hipótese sugere que seja derivado de Apro, o nome etrusco de Vénus, deusa do amor e da paixão. Além de ser o único mês que termina com "L" ao invés de "O"
- Maio: Maia Maiestas e Flora, deusas romanas que acreditavam ser responsáveis pela primavera e o crescimento das flores.
- Junho: Juno, deusa romana, esposa do deus Júpiter. Considerada a protetora da família e dos partos. Também pode ter derivado do clã romano junius.
- Julho: Julius Caesar, (Júlio Cesar), general romano. O mês era anteriormente chamado Quíncio, ou quintilius, o quinto mês do calendário de Rómulo. Séculos depois foi rebatizado em homenagem ao imperador Julius Caesar que tinha sido assassinado.
- Agosto: Augustus, (Augusto), primeiro imperador romano. O mês era anteriormente chamado Sêxtil ou sextilis, o sexto mês do calendário de Rómulo. Também foi rebatizado em homenagem ao imperador Augustus.
- Setembro: Septem, "sete" em latim; o sétimo mês do calendário de Rómulo. Mantido nos calendários posteriores.
- Outubro: Octo, "oito" em latim; o oitavo mês do calendário de Rómulo. Mantido nos calendários posteriores.
- Novembro: Novem, "nove" em latim; o nono mês do calendário de Rómulo. Mantido nos calendários posteriores.
- Dezembro: Decem, "dez" em latim; o décimo mês do calendário de Rómulo. Mantido nos calendários posteriores.
Também os dias da semana merecem uma especial referência, nomeadamente na língua portuguesa, devido à liturgia católica por iniciativa de Martinho de Dume (518 d.C. - 579 d.C.), bispo de Braga e de Dume, que denominava os dias da semana da Páscoa com dias santos em que não se deveria trabalhar, originando os nomes litúrgicos. E considerando como indigno de bons cristãos que se continuasse a designar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies, foi o primeiro a usar a terminologia eclesiástica Feria ou Feira (dia santo ou feriado), para os designar por (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde surge nos modernos dias na língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo), caso único entre as línguas novilatinas, dado ter sido a única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã. Isto porque até o século XV em Portugal, era falado um português arcaico, usando-se nomes de origem pagã. Tais nomenclaturas não chegaram a fazer parte da língua portuguesa. Observa-se a semelhança dessa espécie de "português arcaico" com outras línguas novilatinas e também identificação semântica com algumas línguas germânicas. Na nomenclatura pagã, como já referido, cada dia era dedicado a um astro ou a um deus que variava de acordo com a mitologia local de cada cultura e que foram conservados em outros idiomas até à atualidade, assim:
- Segunda-feira: Dia da Lua. Logo depois do Sol e sempre no céu, era a Lua a impressão mais forte recebida pelo homem. Influía nas marés, no plantio, no corte das madeiras, talvez mesmo no nascimento das crianças segundo alguns. Daí a atribuir-lhe um dia da semana.
- Terça-feira: Dia de Marte. Na escala dos poderes que governavam os céus, as trevas e os seres humanos, Marte pontificava. Era considerado o senhor da guerra e, portanto, dos destinos dos povos a das nações. A sua influência era tão grande que, inclusive, no calendário romano lhe foi destinado um mês (Março).
- Quarta-feira: Dia de Mercúrio. Era considerado o deus do comércio, dos viajantes e até dos ... ladrões! Mensageiro e arauto de Júpiter, protegia os comerciantes e os seus negócios, dada a importância que estas criaturas tiveram em todos os tempos e em todos os lugares, alcançaram para o seu deus a consagração de um dia da semana.
- Quinta-feira: Dia de Júpiter. Honra conferida ao pai dos deuses pagãos, comandante dos ventos e das tempestades. Daí a ideia de lhe atribuir um dia da semana, talvez para acalmar a sua fúria.
- Sexta-feira: Dia de Vénus. Nascida da espuma do mar para distribuir belezas pelo mundo, a deusa Vénus representava para os pagãos os ideais da formosura, da harmonia e do amor. Daí a razão de merecer a homenagem de um dia da semana.
- Sábado: Dia de Saturno. Saturno, deus especialmente querido dos romanos, foi despojado, pelo uso e pelo tempo, da homenagem consistente em dar nome a um dia da semana. No Império Romano eram celebrados grandes festejos em sua honra as designadas Saturnais, realizadas em dezembro e que se prolongavam por vários dias. Mas a homenagem a Saturno, correspondente a um dia da semana, perdeu-se nas línguas latinas, em que se deu preferência ao termo hebraico Shabbath, que significa repouso, indicado na velha lei judaica como sendo o dia dedicado ao descanso e às orações. Mas a língua inglesa permaneceu fiei ao velho Saturno, chamando ainda ao seu sábado Saturday.
- Domingo: Dia do Senhor. Dia dedicado ao Sol, o astro-rei que era tudo para o homem primitivo. O Sol afastava as trevas, aquecia os corpos, amadurecia as colheitas. O Sol era como se simbolizasse Deus, daí a designação de Dia do Senhor entre os latinos.
Na Península Ibérica embora se usa-se o calendário Juliano desde a conquista pelo Império Romano, vigorou, desde o século V, a chamada "era de Espanha" ou Hispânica, Gótica, de Augusto ou de César, usada nos mais antigos documentos dos arquivos portugueses, sob as formas sub era ou in era. Começava no dia 1 de janeiro do ano 38 a.C., ano 716 da fundação de Roma, e comemorava a conquista definitiva da península pelos romanos e a introdução nela do calendário Juliano. Procede 38 anos ao ano de nascimento de Jesus Cristo. O primeiro da era cristã coincide com o ano 39 da era de Espanha. Para converter, pois, a era de Espanha ou de César à era Cristã é preciso tirar daquela 38 anos. Em Portugal, o rei de D. João I (1357 - 1433), no decreto Régio 22 de agosto do ano da Era Juliana de 1460, ordenou que daí em diante se passasse a usar o ano do nascimento de Jesus Cristo como ano do começo ou referência, substituindo assim a era de César. Assim, o dia a seguir ao decreto régio, deixaria de ser o 16 de agosto de 1460 da Era Juliana para ser o 16 de agosto de 1422 da Era de Cristo. Esta mudança já tinha sido efectuada em Aragão em 1350, Leão e Castela em 1383. O início da Era Cristã, usada pela maioria dos povos europeus ou que foram por estes colonizados, foi fixada em 25 de dezembro do ano do Nascimento de Jesus Cristo, ou seja o ano 753 da fundação de Roma. Em alguns documentos portugueses encontra-se também a era – anno a Passione – cujo ponto de partida é posterior 33 anos à era cristã. Até ao século XIV, o ano novo começava em 25 de março, dia em que se celebra a Anunciação à Virgem Maria e a Incarnação. Era ou estilo da Incarnação ou Anunciação. Foi também adoptada na Idade Média, algumas vezes, a era ou estilo da Páscoa, variável pela mobilidade desta festa. A Era ou estilo da circuncisão começava no dia 1 de janeiro. No entanto, nos séculos XIV, XV e XVI usaram-se, indiferentemente, as datas de 25 de dezembro ou de 1 de janeiro para começo do ano, embora esta última tivesse predominado. Contudo, o hábito de utilizar a era Juliana ou Hispânica persistiu durante décadas e ainda Gomes Eanes Zurara (1410 - 1474), a menciona na Crónica da Tomada de Ceuta, dando-lhe a data de 1453 (1415 DC). O calendário romano Juliano, perdurou durante todo o período da Idade Média. Servindo como um mapa do ano para a igreja Católica durante esse período. Enquanto seguia o método do calendário romano na determinação das datas, também enumerava os dias dos santos assim como outras festas religiosas e registava as fases da Lua. Muitos calendários também incluíam ilustrações relacionadas aos santos, festas, trabalhos mensais agrícolas, atividades de lazer e sinais do zodíaco. Neste contexto surgem os famosos calendários agrícolas descrevendo as actividades referentes a cada mês do ano.
Em 1545, o Concílio de Trento determinou a realização de alterações no calendário da Igreja. Para isso reuniram um grupo de especialistas, formando uma comissão de reforma, para estudar e corrigir o calendário Juliano. A Comissão preparou um documento, o Compendium, em 1577, enviado no ano seguinte aos Príncipes e matemáticos para darem o seu parecer.
O objectivo da mudança era fazer regressar o equinócio da Primavera para o dia 21 de março e desfazer o erro de 10 dias existente na época. Neste grupo, constituído pelos melhores astrónomos e matemáticos da época, de entre eles teve um papel preponderante o célebre sábio e matemático, o padre jesuíta Christopher Clavius (1538 - 1612), que estudou matemática em Coimbra com o português Pedro Nunes (1502 - 1578). Após 5 anos de estudos e cálculos astronómicos, o papa Gregório XIII (1502 - 1585), instituiria o novo calendário em 1582, mediante a bula "Inter Gravissimas", a fim de adequar a data da Páscoa ao equinócio da primavera no Hemisfério Norte. É em homenagem a este papa, Gregório XIII, que o novo calendário foi chamado de Gregoriano. A bula pontifícia também determinava regras para impressão dos calendários, com o objectivo de que eles fossem mantidos íntegros e livres de falhas ou erros. Era proibido a todas as gráficas com ou sem intermediários, publicar ou imprimir, sem a autorização expressa da Santa Igreja Romana, o calendário ou o martirológico em conjunto ou separadamente, ou ainda de tirar proveito de qualquer forma a partir dele, sob pena de perda de contratos e de uma multa de 100 ducados de ouro a ser paga à Sé Apostólica. O não cumprimento desta lei punia ainda o infrator a pena de excomunhão, designada de latae sententiae e a outras tristezas, como consta na mesma bula. Oficialmente o primeiro dia deste novo calendário foi a 15 de outubro de 1582. Este ajuste implicou a supressão de 10 dias do mês de outubro daquele ano, ou seja, do dia 5 de outubro de 1582, quinta feira, saltou-se para o dia 15 de outubro, sexta feira. Além disso, os dias bissextos que caíssem nos anos centenários (aqueles terminados em 00, como 1700, por exemplo) passariam a ser ignorados, a menos que fossem divisíveis de modo exato por 400 (como 1600 e 2000). Essa regra suprimia três anos bissextos a cada quatro séculos, deixando o calendário Gregoriano suficientemente preciso e eliminando o atraso de três dias a cada 400 anos, que ocorria no calendário Juliano. Apesar do ajuste nos anos bissextos, o ano do calendário Gregoriano ainda tem cerca de 26 segundos a mais que o período orbital da Terra. Esta falha, no entanto, só acumula um dia a mais a cada 3.323 anos. O calendário Gregoriano apresenta alguns defeitos, tanto sob o ponto de vista astronómico (estrutura interna), como no seu aspecto prático (estrutura externa). Por exemplo, o número de dias de cada mês é irregular (28 a 31 dias), para além disso a semana, adoptada quase universalmente como unidade laboral de tempo, não se encontra integrada nos meses e muitas vezes fica repartida por dois meses diferentes, prejudicando a distribuição racional do trabalho e dos salários. Outro problema é a mobilidade da data da Páscoa, que oscila entre os dias 22 de março e 25 de abril, perturbando a duração dos trimestres escolares e de numerosas outras actividades económicas e sociais. Por essa razão, vários investigadores pertencentes a várias igrejas ou organismos internacionais e mesmo privados se têm ocupado activamente da reforma do calendário.
Logo em 1582, países católicos como a Itália, a Espanha, Portugal e a Polônia adoptaram a mudança imediatamente para o novo calendário Gregoriano, assim como a porção católica dos Países Baixos.
Em Portugal, onde reinava Filipe I de Portugal, II de Espanha (1527 - 1598), foi ordenado saber que cinco localidades portuguesas serão das primeiras a ser informadas que o mês de outubro vai ser encurtado. No dia da publicação, o chanceler-mor do reino Simão Gonçalves Preto foi incumbido de afixar, de imediato, uma cópia da lei nas portas dos paços reais e da Câmara de Lisboa, informando: "E outros tais traslados se fixarão nas portas das cidades de Évora, Coimbra, e Porto, e da Vila de Santarém. E assim enviará logo com muita diligência os mais traslados que foram necessários passados pela dita maneira, aos corregedores das comarcas, ouvidores dos mestrados, e aos ouvidores das terras, mando que os publiquem nos lugares onde estiverem e nos mais das suas comarcas e ouvidorias para que a todos seja notório."
Na França, o rei Henrique III (1551 – 1589), decretou o ajuste no mesmo ano, mas só em dezembro. A adopção deste calendário pela Suécia em 1699, foi de tal forma problemática que até gerou o dia 30 de fevereiro. Os países de maioria protestante, porém, rejeitaram a alteração de calendário. As partes protestantes da Germânia, atual Alemanha assim como os Países Baixos, só adoptaram o novo calendário em 1700. A Grã-Bretanha, predominantemente anglicana, demorou mais, só o adoptando em 1752. O astrónomo Johannes Kepler (1571 - 1630), chegou a observar que esses países preferiram "ficar em desacordo com o Sol a ficar de acordo com o papa". Como curiosidade, em 1792, é criado o calendário Revolucionário Francês ou calendário Republicano, pela Convenção Nacional, durante o período revolucionário para simbolizar a quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história da humanidade. O calendário tinha características marcadamente anticlericais e baseava-se no ciclo da natureza. Este calendário só vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando Napoleão Bonaparte (1769 - 1821), ordenou o restabelecimento do calendário Gregoriano, e também durante a Comuna de Paris, de 18 de março a 28 de maio de 1871. Foi retomado desde então o calendário Gregoriano até à actualidade. Os países ortodoxos adoptaram o calendário Gregoriano somente no início do século XX. A China aprovou-o em 1912, a Bulgária em 1916. Na Rússia, por exemplo, a recém-criada União Soviética implantou o novo calendário em 1918. É por isso que a chamada "Revolução de Outubro", de 1917, na verdade aconteceu em novembro, segundo o calendário Gregoriano. Na Europa, os últimos países que adoptaram o calendário Gregoriano foram a Roménia em 1919, a Grécia, em 1923, e a Turquia, em 1926. Antes, como parte do Império Otomano, seguia-se nessas regiões o calendário muçulmano, que tem base lunar. A adopção progressiva do calendário Gregoriano pelos diversos países, mesmo dentro do mundo cristão, provoca certa confusão na datação dos eventos históricos ocorridos entre os séculos XVI e XX. Alguns povos, no entanto, conservam em paralelo outros calendários para usos religiosos ou por questões de tradição. O ano de 2017 no calendário Gregoriano corresponde, por exemplo, ao ano de 2561 no calendário budista; a 5777–5778 no calendário hebraico; a 2073–2074 no calendário hindu Vikram Samvat; a 1939–1940 no calendário hindu Shaka Samvat; a 5118–5119 no calendário hindu Kali Yuga; a 1395–1396 no calendário iraniano ou Jalali e a 1438–1439 no calendário islâmico. Até hoje, as Igrejas ortodoxas do Oriente utilizam o calendário Juliano para determinar a data da Páscoa, que, por essa razão, quase nunca corresponde à data da Páscoa católica. Por uma questão prática, o calendário Gregoriano é hoje adoptado como convenção para demarcar o ano civil em praticamente todo o planeta. Essa unificação, que facilita o relacionamento entre os países, deve-se em grande parte à exportação histórica dos padrões europeus para o resto do mundo.
Um Bom Ano!
Texto:
Paulo Nogueira
Publicação feita ao abrigo do acordo de partilha de conteúdos entre o blogue "Histórias com História" e o site "Cultura e Não Só".