«Em 1509, Gil Vicente produziu e apresentou, em Almada, o Auto da Índia para a rainha D. Leonor, irmã de D. Manuel I, viúva de D. João II e neta do rei D. Duarte. Esta peça teatral constitui o primeiro texto literário sobre o processo da Expansão Portuguesa. (...) Sendo o primeiro texto sobre um processo que já era entendido e apresentado no país e no estrangeiro como uma epopeia gloriosa, não versa, contudo, sobre os feitos dos portugueses. (...) O Auto da Índia não tem como protagonista um dos homens que partiu, mas antes uma mulher que ficou e que não se acomodou, e toda a história se passa em Lisboa. Nada sabemos sobre as razões que motivaram Gil Vicente a fazer esta escolha, assim como nada sabemos sobre a produção do auto. Temos apenas o texto que foi representado perante D. Leonor, que era protetora do autor, e a informação de que foi representado em Almada. É este o legado da História. Segue-se o romance!»
Na primavera de 1509, Gil Vicente e a sua trupe de atores preparam-se paraestrear o Auto da Índia, em Almada, para a rainha velha, D. Leonor. Um antigo degredado regressa da Índia e encontra a sua mulher casada com outro.
Amores, desamores, casos de pirataria, espiões e quatro assassinatos misteriosos perturbam a pacatez da vila. Uma nau da Índia chega a Cascais e o enredo teatral torna-se realidade.
Como no auto de Gil Vicente, são as mulheres as protagonistas desta história. As mulheres que ficaram em terra enquanto os seus maridos procuravam a riqueza e a fama nos mares da Índia. As mulheres que mantiveram os negócios dos homens enquanto estes partiam à aventura. As mulheres que sofriam em silêncio as saudades pelos seus maridos, sem saber se estes estavam vivos ou mortos, mas que acreditavam que era por um futuro melhor. Este romance é, por isso mesmo, uma belíssima história de mulheres indómitas, enquanto as naus da Índia mudavam o mundo.
Sinopse:
Numa tarde da primavera do ano de 1509, a pacatez de Almada é sobressaltada pelo aparecimento de Zeferino, um antigo degredado, vindo da Índia, que encontra a sua esposa casada com o sobrinho do alcaide; o degredado percebe então que a sua morte tinha sido anunciada havia sete anos. E, embora seja atirado de novo para os calabouços, Zeferino não desiste da sua Filipa. No mesmo dia começam a chegar à vila Gil Vicente e os atores que iriam representar dentro de poucas semanas o Auto da Índia. Atores, atrizes e auxiliares preparam a peça de enredo imprevisto sob a atenção de uma fidalga empertigada e por entre jogos de sedução de desfechos inesperados e por vezes infelizes. A protagonista do auto é uma cristã-nova, de memórias tristes, que tem o seu marido na Índia. Entretanto, o desassossego toma conta da vila: Vasco de Melo, chefe dos espiões d’el-rei, e os seus auxiliares montam o cerco a um pirata e em poucos dias ocorrem quatro assassinatos, envoltos num mistério insolúvel; a única pista é uma velha, logo transformada em bruxa, mas o alcaide também levanta suspeitas. Finalmente, a vila sossega e a rainha D. Leonor assiste à estreia do Auto da Índia sem saber que perto de si está a pessoa responsável pelos terríveis quatro crimes que atemorizaram a vila; enquanto isso, uma nau da Índia chega a Cascais e o enredo teatral torna-se realidade.
Este romance é, por isso mesmo, uma belíssima história de mulheres deixadas para trás, enquanto as naus da Índia mudavam o mundo.