Se a História se faz das palavras dos sobreviventes, Ivan Jablonka
quer anular a narrativa que sobreviveu: anula a do assassino,
reabilitando a da vítima. Em «Laëtitia - Ou o Fim dos Homens», é
Laëtitia que importa, renascendo a cada página como a heroína
da sua própria história.
No âmbito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência
Contra as Mulheres, Ivan Jablonka estará em Lisboa entre 21 e 22
de Novembro para a promoção do seu mais recente livro.
Em 2011, toda a França se mobilizou para assistir ao desenrolar
do caso da adolescente que tinha sido raptada, violada, morta e
desmembrada. Ivan Jablonka, historiador e sociólogo, mergulha
no relato desta história com uma mestria que fez de «Laëtitia - Ou
o Fim dos Homens» o livro-sensação da rentrée literária francesa
de 2016, e valeu-lhe o prémio literário Le Monde e o Médicis,
tornou-o finalista do Renaudot, na categoria de ensaio, e
integrou-o na lista para o Goncourt, na categoria de literatura.
O caso, que comoveu o país, foi muitas vezes usado para fins
políticos – a desestruturação das famílias e o estado das zonas
suburbanas francesas – e como objeto, por parte do seu
assassino. Com este livro, Jablonka quis resgatar a dignidade da
vítima, não ignorando porém que o assassinato, e a vida desta
jovem, são também um símbolo e um retrato de um certo estado da sociedade.
O autor, avesso à “pasteurização” dos textos históricos, examina neste volume a semiologia do horror, num
“ensaio” subjetivo, documentando a história num registo mais verdadeiro do que a realidade. Esta é uma obra
eminentemente literária: no ritmo das frases e da narração, bem como no tom, que oscila entre o lírico e o
didático. Um texto que se lê com paixão e voracidade.
Sobre o autor
Ivan Jablonka é sociólogo e interessou-se pela história de Laëtitia, tendo decidido escrever sobre a sua vida e
morte.