quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Exposição prolongada até 30 de dezembro:"Brasília - Da Utopia à Capital", no Museu Nacional dos Coches



“Brasília – Da utopia à Capital” exibe um acervo de aproximadamente 300 obras de arte e documentos, tais como maquetes de edifícios icónicos projetados por Oscar Niemeyer; desenhos e maquete fotográfica do plano urbanístico de Lucio Costa; esculturas de Maria Martins, de Bruno Giorgi e de Alfredo Ceschiatti; e fotografias de Marcel Gautherot, Peter Scheier, Jean Manzon e Mário Fontenelle. As obras são provenientes de coleções brasileiras, públicas e privadas, entre as quais o Instituto Moreira Salles, o Arquivo Público do Distrito Federal e a Coleção Brasília — acervo de Izolete e Domício Pereira. A  exposição, que tem curadoria de Danielle Athayde, foi prolongada até o dia 30 de dezembro de 2022.

Uma epopeia modernista
A transferência da capital do Brasil do litoral atlântico para o centro-oeste do seu território, no início da década de 1960, despertou um sentimento de euforia desenvolvimentista na população brasileira. Pessoas comuns, movidas pelo desejo de fazer parte do sonho de construção de uma nova cidade, sede do governo, deslocaram-se do conforto de suas famílias e de suas cidades de origem, em especial do nordeste brasileiro, em direção ao centro-oeste. O Planalto Central, no cerrado brasileiro, de horizonte infinito e de terra vermelha, transformou-se num canteiro de obras de proporções épicas, cujos núcleos de acomodações precárias, sendo um deles a Cidade Livre, chegou a abrigar mais de 30 mil trabalhadores durante a construção, que durou 3 anos e 10 meses.

Concreto aparente
Os chamados “candangos”, trabalhadores oriundos de vários campos de conhecimento e, em geral, pertencentes às camadas populares, aprenderam in situ a dominar o emprego e a manipulação do concreto aparente. O material, elemento marcante do Modernismo brasileiro, não admite erros ou retoques. Ao observarmos, com admiração e espanto, a beleza do projeto urbanístico de Lúcio Costa, o Plano Piloto, e a harmonia e perfeição das linhas curvas de Oscar Niemeyer, também estamos a observar a excecional capacidade artesanal dos candangos, sobretudo na elaboração dos pilares do Palácio da Alvorada, inspirados nas redes de casas de fazenda do período colonial e nos arcos que sustentam o Palácio do Itamaraty, cujas maquetes compõem a mostra.

Plano Piloto
O esforço da construção de Brasília, compartilhado por funcionários públicos, arquitetos, artistas e candangos, poderá ser observado nos documentos históricos reunidos pela exposição Brasília – Da utopia à Capital. Entre eles, o projeto Plano Piloto, proposto por Lúcio Costa.

A maquete de Brasília, definida por uma área de 21×17 km, Brasília, é delimitada, ao sul, pelo Aeroporto Internacional JK; ao norte, pela recente Torre de TV Digital; a leste, pela barragem do Lago Paranoá; e a oeste, pela rodoviária. A Maquete de Brasília foi especialmente concebida para esta exposição a partir de imagens de satélite, em alta resolução, medindo 6,00×4,80 metros, considerando a escala de 1:3500.

Comissionamento de artistas
As etapas de construção da nova capital brasileira, realizadas em ritmo apressado, de vergalhões de aço e andaimes gradualmente cobertos pelo concreto que lhe conferiu singularidade, foram registadas em belíssimos ângulos geométricos pelas lentes dos fotógrafos Peter Scheier, Marcel Gautherot, Jean Manzon, Mário Fontenelle e Jesco Puttkamer.

Vislumbrada como uma obra de arte completa, com características de museu a céu aberto, o projeto de Brasília comissionou obras a um prestigioso grupo de artistas: Athos Bulcão, autor de fachadas, pinturas e azulejos que dão cor ao concreto e se integram à arquitetura, como as fachadas do Teatro Nacional e os painéis de azulejo no Congresso Nacional e na Igrejinha; Marianne Peretti, autora dos vitrais da Catedral Metropolitana; Alfredo Ceschiatti, escultor dos anjos da Catedral; Roberto Burle Marx, artista criador de projetos paisagísticos dos principais espaços públicos da capital, como o Parque da Cidade, o Palácio do Itamaraty, as superquadras, as praças e eixos do plano piloto, além de obras e projetos para os seus interiores, para citar alguns.

Algumas dessas obras e seus estudos serão exibidos em Lisboa pela primeira vez. É o que acontece com as obras da Coleção Brasília – Acervo Izolete e Domício Pereira com o modelo para a obra O Rito do Ritmo de Maria Martins, primeira escultura pública da capital, executada a convite de Niemeyer e instalada nos jardins internos do Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República. O mesmo pode ser dito de obras de Bruno Giorgi, como Os Guerreiros, de representação dos candangos e símbolo do marco da ocupação artística da capital.

Coleção Brasília
Um dos destaques do projeto é a Coleção Brasília. Um acervo formado pelo casal Izolete e Domício Pereira — considerados pioneiros que chegaram à nova capital em 1959 e onde exerceram cargos no governo federal e na Novacap (companhia responsável pela construção da cidade) — e que abrange cerca de cinco décadas da cultura brasileira. São gravuras, pinturas, desenhos, esculturas, maquetes, objetos de época e documentos oficiais, entre outras preciosidades. O acervo é administrado pelo curador e historiador Cláudio Pereira, filho do casal, que para a exposição e livro “Brasília da Utopia à Capital" fez uma seleção representativa de obras vinculadas ao imaginário dos novos ares modernistas, que se estabeleceram no ideário da nova capital. Destacam-se peças dos escultores Bruno Giorgi e Maria Martins, além de Roberto Burle Marx, entre outros.

Cláudio faz questão de destacar duas obras da artista Marianne Pereti, única mulher na equipe de Niemeyer, e responsável pelos vitrais da Catedral de Brasília, entre tantas obras icónicas espalhadas pela cidade. “Marianne presenteou os meus pais com a lúdica pintura “Centopéia”. Faz parte do acervo a escultura “Pássaro”, em bronze dourado- simbolizando novos tempos- e a versão da escultura pública instalada no foyer da sala Villa-Lobos, no Teatro Nacional”, lembra Cláudio Pereira.

Curadoria
Além de reunir elementos relacionados com a arquitetura que identificam Brasília, a curadoria de Danielle Athayde propõe-se analisar a produção artística dos anos de construção da capital, assim como encaminhar o nosso olhar para a representação contemporânea desta cidade. Nesse sentido foram comissionadas  obras aos artistas Alex Flemming (que faz alusão à arquitetura da Catedral), Naura Timm (que apresenta uma série de esculturas inspiradas pelo Cerrado, bioma em que a cidade foi edificada), Carlos Bracher (com a série de pinturas “Brasília”) e Tarciso Viriato (com a obra “guerreiro etrusco e a natureza”).

Direção Executiva
Morando há 3 anos em Lisboa, a publicitária Danielle Fonteles integra o time executivo a equipa da exposição. Responsável pela interlocução com empresas privadas e instituições portuguesas, Danielle assume a produção e a divulgação local da exposição em Portugal.

Museu Nacional dos Coches
O Museu Nacional dos Coches (MNC) possui a mais importante coleção, a nível mundial, de coches e carruagens reais do século XVI ao século XIX. O museu foi criado, em 1905, no antigo Picadeiro do Palácio Real de Belém, em Lisboa e é hoje constituído por dois edifícios: o antigo Picadeiro do Palácio de Belém  (Praça Afonso de Albuquerque) e o Novo Edifício, em frente (Av. da Índia), inaugurado em 2015.

O MNC reúne uma coleção única no mundo, de cerca de 9 000 objetos, que inclui predominantemente viaturas de gala ou de aparato, algumas de viagem e de passeio, dos séculos XVI a XIX, e acessórios de cavalaria. Tem sido o museu nacional mais visitado de Portugal, com 382 593 visitantes em 2016.

O novo edifício, que guarda a maior parte das coleções, é um projeto de Paulo Mendes da Rocha  (prémio Pritzker 2006) em consórcio com o atelier Ricardo Bak Gordon e o engenheiro Rui Furtado.