segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O romance que saiu com o título errado



Na semana em que José Saramago celebraria o seu 100.º aniversário, a Porto Editora publica A Viúva, o livro de estreia, e uma edição de A Viagem do Elefante com design e ilustrações de Manuel Estrada.

«O autor é um rapaz de vinte e quatro anos, calado, metido consigo, que ganha a vida como praticante de escrita nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa [...]. Nesse ano de 1947 em que estamos nascer-lhe-á uma filha, […] e publicará o romance que tem andado a escrever, esse a que chamou A Viúva mas que vai aparecer à luz do dia com um título a que nunca se há de acostumar.» Terra do Pecado foi o título imposto à sua estreia literária e assim permaneceu até aos nossos dias, sem que José Saramago tenha chegado alguma vez a conformar-se com a alteração.

No encerramento do centenário do nascimento do único Prémio Nobel de Literatura de língua portuguesa, a Porto Editora devolve ao seu primeiro romance o título original escolhido pelo escritor, deixando a caligrafia da capa a cargo de Violante Saramago Matos, a sua única filha, nascida no mesmo ano em que José Saramago se tornou um autor publicado. A obra fica igualmente disponível em formato audiolivro, com narração de Mónica Mendes, animadora das manhãs da Antena 1.

Também já chegou às livrarias A Viagem do Elefante, agora numa edição em capa dura, com design e ilustrações de Manuel Estrada e com o texto integral de um dos mais emblemáticos romances de Saramago, narrando a viagem pela Europa de Salomão, o elefante asiático que D. João III ofereceu ao seu primo, o arquiduque Maximiliano de Áustria.

Sobre o Autor

Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. As noites passadas na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, foram fundamentais para a sua formação. «E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.» Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de Terra do Pecado. Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance Clarabóia, publicado apenas após a sua morte.

No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário. Regressa à escrita em 1966 com Os Poemas Possíveis. Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em abril de 1975 é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projeto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance Levantado do Chão e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de Memorial do Convento a Caim, passando por O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes ou A Viagem do Elefante, obras traduzidas em todo o mundo. 

No ano de 2007 foi criada em Lisboa uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998.