quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A derradeira coletânea de contos de Borges


«O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última.» Assim se descreve o inconcebível livro de areia que dá nome à derradeira coletânea de contos de Jorge Luis Borges — publicada em 1975, há muito esgotada, é agora reeditada pela Quetzal, na coleção que utiliza os elementos do tríptico das Tentações de Santo Antão, de Hieronymus Bosch.

«Disse-me que o seu livro se chamava Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia têm princípio nem fim», lê-se no último dos 13 contos que compõem este volume imprevisível, enigmático, labiríntico e, ao mesmo tempo, monstruoso: um livro de areia, que tomará o tempo e a memória do leitor para sempre. Um volume de folhas incalculáveis onde, como é hábito de Jorge Luis Borges, não faltam traços autobiográficos.

A primeira das histórias, «O Outro», retoma o tema do duplo; depois, há narrativas sobre literaturas que conhecem apenas uma palavra, sobre amores fugazes ou a natureza e a ordenação do cosmos. Jorge Luis Borges novo e antigo, num jogo de espelhos que confunde leitor e autor.

O Livro de Areia é traduzido por Antonio Sabler e chega às livrarias amanhã, 13 de janeiro.

Sobre o Autor

Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899. Cresceu no bairro de Palermo, «num jardim, por detrás de uma grade com lanças, e numa biblioteca de ilimitados livros ingleses». Em 1914 viajou com a família pela Europa, acabando por se instalar em Bruxelas, e posteriormente em Maiorca, Sevilha e Madrid. Regressando a Buenos Aires, em 1921, Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina. Em 1923, publicou o seu primeiro livro – Fervor de Buenos Aires – mas o reconhecimento internacional só chegou em 1961, com o Prémio Formentor, seguido por inúmeros outros. A par da poesia, Borges escreveu ficção (é sem dúvida um dos nomes maiores do conto ou da narrativa breve), crítica e ensaio, géneros que praticou com grande originalidade e lucidez. A sua obra é como o labirinto de uma enorme biblioteca, uma construção fantástica e metafísica que cruza todos os saberes e os grandes temas universais: o tempo, o «eu e o outro», Deus, o infinito, o sonho, as literaturas perdidas, a eternidade – e os autores que deixam a sua marca. Foi professor de literatura e dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires entre 1955 e 1973. Morreu em Genebra, em junho de 1986.