"A marca deixada na pele por se usar algo apertado", alguém sabe uma palavra que descreva esta ideia? Pois bem, também André Carvalho, contrabaixista e compositor, não sabia. A verdade é que, apesar de não haver uma palavra em Português para esta ideia, não significa que não exista numa outra língua. Por incrível que pareça, em Tulu, língua falada na Índia, existe uma palavra para este conceito - "Karelu". É justamente sobre este tipo de palavras ditas intraduzíveis que André Carvalho se inspirou para escrever um novo ciclo de música que intitulou Lost in Translation. No conjunto de temas que perfazem Lost in Translation podemos encontrar "Karelu", o segundo single do seu novo álbum.
Este segundo single "Karelu" assenta sobre uma ideia quasi leit motiv que se repete ao longo do desenvolvimento do tema. Uma ideia repetitiva como se tratasse de algo que desse uma certa comichão. Entre essa ideia repetitiva ouviremos vários outros episódios que exploram texturas e improvisações livres. Em "Karelu", para além do trio core formado por José Soares, André Matos e o próprio André Carvalho, ouviremos o convidado especial João Almeida no trompete. O videoclip foi gravado na sessão de gravação por Pedro Caldeira.
ÁLBUM LOST IN TRANSLATION
André Carvalho lança o seu 4º álbum enquanto líder, inspirado em palavras intraduzíveis.
Segundo o contrabaixista e compositor, após ter tropeçado neste maravilhoso mundo das palavras intraduzíveis, escreveu um novo ciclo de música inspirado em palavras de mais de 10 línguas como o Sueco, Urdu e Wagiman (língua actualmente falada por apenas 2 pessoas no mundo).
Ao referir-se a este novo trabalho, André pretende colocar a seguinte pergunta: “Alguma vez quiseram dizer algo mas não encontraram a palavra certa?”. Segundo André, por vezes a palavra está mesmo na ponta da língua mas, outras vezes, simplesmente não existe uma palavra… Ou, pelo menos, na nossa língua. Carvalho continua, dizendo que, por mais fascinante que a língua Portuguesa seja, sempre teve dificuldade em expressar certas ideias usando apenas uma palavra. E, mesmo que soubesse todo o léxico, tem a certeza que este problema persistiria.
“Não só queria escrever música inspirada neste universo tão peculiar como também, usar uma instrumentação diferente da que usei nos meus anteriores álbuns. Paralelamente, idealizava um grupo sem bateria, onde o espaço e o respeito pelo silêncio fosse uma constante. E, com vista a perseguir uma sonoridade contemplativa, intimista e ao mesmo tempo crua, algo que imaginava com bastante clarividência, tentei usar elementos colorísticos e texturais, para além dos tradicionais elementos musicais como a melodia, harmonia e ritmo. Com todos estes pressupostos a escolha dos músicos pareceu-me óbvia!”.
Assim, a Carvalho junta-se o saxofonista José Soares e o guitarrista André Matos, músicos com quem tem colaborado intensamente nos últimos anos e que formam, assim, o “core” do grupo. Nalguns dos temas, junta-se ao trio o jovem trompetista João Almeida.
A busca incessante por novas sonoridades tem levado o contrabaixista a explorar algumas áreas musicais tais como o jazz, a música improvisada, a música experimental e a música contemporânea dita erudita. Por isso, não será de estranhar que coabitem no mesmo álbum composições que exploram diferentes sonoridades, tempos, silêncio, espaço, cores, dinâmicas, texturas e ruídos.
Ao falar sobre Lost in Translation, André cita uma icónica frase de Wittgenstein: “os limites da minha língua significam os limites do meu mundo”. André diz realmente acreditar nisto e que, para si, ao aprendermos novas palavras, a nossa consciência se torna mais sensível aos outros, tornamo-nos mais empáticos e o nosso mundo se torna mais rico.
O trio apresentará o novo álbum na Galeria Zé dos Bois (Lisboa, 14 de Outubro), Casa da Cultura de Setúbal (15 de Outubro), Casa da Música do Porto (16 de Outubro) e Salão Brazil (Coimbra, 17 de Outubro) e fará uma masterclasse na Universidade Lusíada no dia 11 de Outubro.
O álbum é editado dia 15 de Outubro pela editora americana Outside in Music e conta com os apoios da Fundação GDA, Antena2, Companhia de Actores e do Teatro Municipal Amélia Rey Colaço. Gravado, misturado e masterizado pelo engenheiro de som Tiago de Sousa com quem Carvalho trabalhou nalguns dos seus discos anteriores, o artwork foi desenvolvido pela designer Margarida Girão. Lost in Translation sucede-se a The Garden of Earthly Delights (Outside in Music, 2019), inspirado no famoso quadro homónimo de Hieronymus Bosch.
Para além dos habituais cd's, fará pela primeira vez edição em LP e criou algum merchandise alusivo a Lost in Translation, nomeadamente totebags, imans (com algumas das palavras intraduzíveis escolhidas), songbook, posters, postais, sopas de letras (com as palavras incluídas no álbum), lápis e um jogo de memória. Grande parte destes estarão disponíveis nos espectáculos de apresentação, assim como no site de André Carvalho