terça-feira, 31 de agosto de 2021

Diplomata brasileira lança obra sobre a Amazónia


Um Brasil que preocupa o mundo é retratado nas páginas de “O passeio de Dendiara”, da diplomata Ana Beltrame, que acaba de chegar às livrarias de Lisboa. A Amazónia é a estrela na ficção criada pela autora, que retrata a miséria da menina Dendiara, a destruição da floresta e a complexidade dessa região brasileira tão importante para o planeta. 

“Tudo o que está no livro aconteceu de verdade e eu tive contato com as pessoas. O que transformei em ficção foi a ordem dos acontecimentos”, explica Ana Beltrame, que foi cônsul-geral do Brasil em Caiena, na Guiana Francesa, entre 2008 e 2013.

A autora e a Persona Filmes já fecharam um pré-acordo para que o livro seja adaptado para o audiovisual. A direção do filme deve ficar a cargo da cineasta Elza Cataldo, que tem em seu currículo a longa “Vinho de Rosas”, as curtas “O Crime da Atriz”, “O Ouro Branco”, “Lunarium”, “A Má Notícia” e o documentário “A Santa Visitação”.

A obra está na Feira do Livro de Lisboa, no Pavilhão da Motor Editorial, D53, Zona Laranja, diante do Pavilhão do Brasil. Também é possível adquirir “O passeio de Dendiara” na Livraria da Travessa, no Príncipe Real, no site aler.com.pt e, brevemente também estará disponível nas livrarias Barata (Lisboa) e 100ª Página (Braga), além das principais livrarias virtuais do país.

Sobre o livro

No país profundo, periférico e quase invisível, onde vive boa parte do povo brasileiro, começa e termina a história da pequena Dendiara, ou Dendy, como batizaram os que a encontraram na região fronteiriça do Brasil com a Guiana Francesa. A menina desafortunada, que veio da mais áspera miséria, carrega no seu percurso um símbolo da controversa ocupação da Amazónia.

Da narrativa de Ana Beltrame, emergem garimpos ilegais de ouro, que desnudam e quebram o solo da região amazónica, injetando-lhe mercúrio e ambição. O enredo ganha intensidade em meio a personagens ribeirinhos, a animais selvagens e a presença ainda exuberante da mítica floresta. As águas dos rios imensos e dos pequenos igarapés correm o tempo todo pelas páginas.

“O passeio de Dendiara” não é apenas um livro instigante, capaz de surpreender e capturar o leitor. É também um mergulho em um ambiente desconhecido mesmo pela maioria dos brasileiros, que costumam enxergar a Amazónia como um cenário exótico e remoto. Ana Beltrame mostra essa região complexa de maneira fascinante, aproximando-a de todos nós, com o olhar sensível e agudo da diplomata que vai muito além dos círculos fechados do poder.

A tragédia social que recobre a menina retratada no livro repete enredos conhecidos, desde o ponto de partida da família desestruturada até o desfecho precoce, numa linha do tempo que mostra as marcas do abandono. O texto percorre esse registro dramático com delicadeza, sem estridência, como se os acontecimentos fossem suficientes para patentear a realidade aviltante, capaz de envergonhar os que representam o país no exterior. Passo a passo, o leitor é levado a desdobrar essa teia.

A vivacidade que a autora imprime à narrativa comporta outras facetas da vida nos espaços desbravados por figuras que se movem nas entranhas da Amazónia, onde vislumbram riqueza e encontram, muitas vezes, violência e degradação. Mas há lugar para episódios bem-humorados, que revelam muito da diversidade cultural da região. Estão lá também as moças que estudam para realizar o sonho acadêmico ou as que navegam, em troca de ouro, ao encontro de ávidos garimpeiros. Os índios povoam vários trechos com vestígios de sua sabedoria.

Ana Beltrame costura todos esses contextos de forma hábil em torno do fio condutor da história de Dendy, que nos arrebata e nos conduz até o fim. Em companhia da menina brasileira de traços indígenas somos levados a conhecer rios, árvores, comidas típicas e expressões características do universo amazônico. E até as nuances da diplomacia, a seara em que a autora exerce o seu ofício. O passeio de Dendiara é um passaporte para descobertas perturbadoras e envolventes, a um só tempo.

Sobre a Autora

Ana Lélia Benincá Beltrame nasceu em maio de 1952, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde passou a infância e a juventude. Concluiu o curso de Direito na Universidade Federal de Santa Maria, em 1975. Ingressou no Itamaraty em 1978, através de concurso do Instituto Rio Branco.

Em 1978, iniciando a carreira de diplomata como terceira-secretária, passou a residir em Brasília. No ano seguinte, foi designada para a Embaixada em Nairóbi, no Quênia, onde permaneceu por três anos. Depois, serviu, sucessivamente, nas embaixadas em Paris e Atenas e nos consulados-gerais em Montevidéu, Caiena, Toronto e Rivera.

Exerceu também diversos cargos em Brasília, no Itamaraty, entre eles o de corregedora do Serviço Exterior. Galgou todos os degraus da carreira de diplomata e foi promovida a embaixadora em 2011.

Em 2009, enquanto cônsul-geral em Caiena, ganhou o prêmio Samuel Benchimol de Empreendedorismo Consciente, do Banco da Amazônia, com o trabalho “Observatório para Empreendedorismo Sustentável e Integração Espontânea entre o Brasil e a Guiana Francesa na Região do Oiapoque”.