terça-feira, 23 de junho de 2020

Crónica Saúde - Joana Franco



O aumento exponencial das pessoas mais velhas em Portugal é um facto iniludível com consequente acréscimo de perturbações cognitivas, que nem sempre são sinónimo de síndromes demenciais.
Uma percentagem significativa das demências entre nós está ligada à hipertensão arterial (Demência por Multienfartes), logo potencialmente prevenível, mas o mesmo não acontece com a decorrente da apresentação clínica mais prevalecente e que resulta da degenerescência das células cerebrais ou neurónios: a Doença de Alzheimer. Sem tratamento efectivo, tem evolução crónica e inexorável, com velocidade variável (os medicamentos comummente indicados apenas parecem atrasar um pouco essa progressão). A influência genética/familiar parece ser felizmente rara, apontando-se como preventivos os hábitos de vida saudáveis – combate ao sedentarismo, isolamento relacional/ intelectual/ físico, alimentação inadequada, álcool, diabetes (entre outros). A par da estimulação cognitiva precoce, a evidência científica mostra como muito relevante o evitar da institucionalização, com a permanência no domicílio, o que requer apoios adequados. Para o viabilizar o PNSM (Programa Nacional para a Saúde Mental) tem apoiado a Associação Alzheimer na formação de equipas de apoio domiciliário de unidades de cuidados primários, a par do Projecto Vidas, da União das Misericórdias, direccionado para a estrutura arquitectónica e a formação de profissionais de residências para pessoas com demência.
Desde 2013 que o PNSM desenvolve iniciativas de estruturação de um plano de intervenção em perturbações demenciais, a par da representação do País em iniciativas da UE e da OMS sobre o tema, tarefa que recentemente transitou para a Coordenação Nacional para a Reforma do SNS na área dos Cuidados Continuados Integrados.
Importa, porém, ter presente que embora depois dos 65 anos a probabilidade de um processo demencial duplicar em cada período de 5 anos, de acordo com Santana et al (2016) a estimativa de demência em Portugal para o grupo dos 65-69 anos é apenas de 1,53%.
Contudo, mesmo sem dados epidemiológicos nacionais, é seguro considerar-se que a problemática psíquica mais comum nas pessoas mais idosas é a depressão, que ao contrário da demência é potencialmente tratável. Só que, por ser uma patologia com grande plasticidade, neste grupo etário muitas vezes apresenta-se sobretudo com compromisso cognitivo (alteração da memória, períodos de desorientação temporal-espacial, perda aparente de capacidades comuns). O quadro é tão confundível com um processo demencial que há anos algumas classificações de doenças psiquiátricas criaram o conceito de “pseudodemência depressiva”, cujo diagnóstico é alcançado através de uma rigorosa história clínica, eventualmente complementada por prova terapêutica com antidepressivo da última geração.
Para a semana iremos abordar o tema: Suicídio.
Uma boa semana. Até lá, cuidem sempre da vossa saúde. Da vossa e da dos que os rodeiam. Procure ajuda especializada quando necessário, sem preconceito.

Apresentação Joana Franco

Chamo-me Joana Franco, tenho 32 anos, e sou natural de Geraldes, aldeia pertencente ao Concelho de Peniche.
Enfermeira de Profissão, terminei o Curso de Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil, em Lisboa, no ano de 2010.
Nos anos mais recentes abracei desafios noutros países, nomeadamente Dubai onde fiz parte um projecto na área de Turismo, e em Inglaterra, onde trabalhei como Enfermeira em “Nursing Homes”, a cuidar de Pessoas com Demência.
Em Portugal, demonstrei o meu trabalho como Enfermeira no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos e, actualmente, trabalho na Clínica Psiquiátrica de Lisboa, em Telheiras.
Sou uma pessoa que aceita novas aventuras e, como tal, aceitei o convite de escrever para o Blog ‘Cultura e não Só’, em que apresento novos pontos de vista e dicas para tornar melhor a saúde do leitor.