A Oficina do Livro fez chegar, esta semana, aos escaparates nacionais "Um Espião no Kremlin - Intrigas, Traições e Mentiras: a Ascensão e a Conquista do Poder de Vladimir Putin", da jornalista Cátia Bruno, uma biografia do presidente russo.
Quando, a 24 de fevereiro de 2022, a Rússia anunciou uma "operação especial" na Ucrânia, o mundo foi apanhado de surpresa – as ameaças de Moscovo tinham mesmo passado à prática. No entanto, um olhar mais atento ao passado de Putin e ao seu modo de atuação – como o recurso frequente à guerra e ao terror para atingir objetivos políticos, ou o desprezo declarado pela independência do país vizinho – mostra claramente que a ideia da invasão germinava há longos anos no espírito do homem mais poderoso da Rússia.
"Para Vladimir Putin, a guerra é um instrumento. O conflito da Chechénia, em 1999, foi o recurso usado para vencer a primeira eleição – ignorando o rasto de morte que deixou pelo caminho e que ainda hoje tem reflexos profundos na vida política russa, como a influência de Ramzan Kadyrov. A anexação da Crimeia, em 2014, foi a atitude que lhe restaurou a popularidade que se esvaía pelos seus dedos. E a invasão de larga escala da Ucrânia, em 2022, foi a última jogada arriscada, cujas consequências ainda estão todas por conhecer. E que surpreendeu o mundo, por ter sido ancorada numa das maiores estratégias que Putin aprendeu com o KGB: a dissimulação. A manutenção no poder e o sucesso na guerra da Ucrânia estão agora intrinsecamente ligados ao futuro de Putin. Por isso mesmo, decidiu voltar a ser candidato nas eleições presidenciais de 2024. Não há no horizonte qualquer perspetiva de reforma", escreve a autora de "Um Espião no Kremlin", a história da ascensão nebulosa do presidente russo, um homem que utiliza a mentira e a violência como principais armas e que foi consolidando o seu imenso poder sem nunca deixar de pensar como um verdadeiro espião.
Desde adolescente que Putin sonhava ser agente do KGB – não apenas concretizou o sonho, como o superou largamente. Passou de agente a chefe dos serviços secretos e, em menos de um ano, deixou esse cargo para ocupar a presidência da Federação Russa. A sua chegada ao Kremlin, devidamente calculada e com uma coleção de golpes sujos pelo meio, foi outra "operação especial", para a qual contou com a ajuda de velhos amigos e ex-colegas da secreta.
Sobre a Autora
Cátia Bruno é editora da secção de Internacional do Observador. Jornalista desde 2011, passou pelas redações dos jornais i e Expresso, tendo escrito como freelancer para publicações como The New York Times, Roads and Kingdoms e De Correspondent. Cobriu no terreno os primeiros dias da invasão russa da Ucrânia, o Brexit (no Reino Unido) e a crise económica na Grécia, entre outros acontecimentos.