segunda-feira, 11 de maio de 2020

Estamos ameaçados pelas nossas próprias invenções


Hubert Reeves, o astrofísico canadiano a quem já chamaram o poeta das estrelas, autor do emblemático título da colecção Ciência Aberta Um Pouco Mais de Azul e cuja a obra está publicada em Portugal pela Gradiva, deu a semana passada uma longa e imperdível entrevista ao jornal Expresso, conduzida por Luciana Leiderfarb.

Transcrevemos aqui um excerto:

«Podemos ser apenas um fait divers, um simples episódio cósmico?
Poderia ser esse o caso. Mas isso incluiria o extermínio da espécie humana. E a espécie humana alcançou muitas coisas que nenhuma outra espécie animal foi capaz de atingir. A primeira é a cultura, é Mozart, é Van Gogh, um tipo de criatividade que desapareceria completamente se o ser humano fosse extinto. A segunda é a ciência: nenhuma outra espécie animal teria chegado à teoria da relatividade de Einstein, construído telescópios para observar as galáxias ou microscópios para compreender de que somos feitos. A terceira é a compaixão, nomeadamente o facto de sofrermos quando vemos pessoas a sofrer. Por isso, construímos hospitais, a Cruz Vermelha e a Amnistia Internacional. Nós, seres humanos, temos pulsões destrutivas, mas também temos compaixão. Não suportamos ver alguém sofrer, sentimos o impulso de ajudar. Está na nossa natureza. O leão ataca o novo macho que nasceu na família. Entre os pássaros, a cria mais frágil ou doente não será alimentada. Os pais vão deixá-la morrer, alimentando só os que estão de boa saúde. A Humanidade trouxe ao mundo a cultura, a ciência e a compaixão. Merece ser preservada.»

Descubra ou redescubra a obra do astrofísico Hubert Reeves que aos 88 anos ainda não quer perder tempo a  dormir.