terça-feira, 26 de maio de 2020

Crónica Saúde - Joana Franco



Esta semana vamos abordar o estigma e a sua ligação à Covid-19. Primeiramente iremos saber de forma sucinta o significado de Estigma.
Estigma é o processo que ocorre quando alguma característica da pessoa é assinalada como indesejável, baseada em estereótipos e preconceitos negativos, o que conduz à discriminação de pessoas ou grupos.
Em saúde, estigma representa uma associação negativa entre uma característica de uma pessoa ou grupo de pessoas e uma doença específica, sem se provar que esta associação é verdadeira. Ou seja, assumir que determinada pessoa tem uma doença ou está em risco de a ter, recorrendo a um julgamento superficial e sem sustentação.
Uma pandemia, ou uma crise de saúde pública, como o surto pelo novo coronavírus (COVID-19), é uma altura de stress acrescido para as pessoas e para as comunidades. O medo e a ansiedade associados à doença podem levar ao crescimento do estigma – dirigido a pessoas, grupos de pessoas ou locais afectados, mas também a pessoas que tenham saído de uma situação de isolamento ou quarentena, mesmo quando já não representam risco de propagar o vírus.

Tentemos agora responder porque é que há estigma associado à COVID-19?
Há alguns factores que ajudam a explicar este fenómeno, entre eles:
- É uma doença nova e sobre a qual a ciência e os especialistas ainda não têm muitas respostas;
-  Geralmente temos medo do desconhecido e daquilo que não sabemos;
- É fácil associar este medo a outros. 
Qual o impacto que o estigma pode ter?
 O estigma pode prejudicar a união e a coesão da sociedade e contribuir para o isolamento de alguns grupos, o que pode ainda contribuir para uma propagação mais rápida do vírus. Como?
- Pode levar a que algumas pessoas escondam sintomas da doença para evitar serem alvos de discriminação;
- Pode fazer com que algumas pessoas não procurem ajuda tão rapidamente;
- Pode desencorajar algumas pessoas de adoptar comportamentos em função da protecção da sua saúde e da saúde dos que as rodeiam.



Quem está a ser afectado pelo estigma com a COVID-19?
Alguns grupos que podem ser alvo de estigmatização são: Pessoas com ascendência asiática; Pessoas que viajaram recentemente; Profissionais de saúde.

Quando nos perguntamos se existe algo que possamos fazer para combater este estigma associado a esta pandemia, a resposta será: SIM! Combater o estigma está ao alcance de todos nós. O que podemos fazer para isso?
1) Espalhar os factos
     - Partilhar informação apenas e quando baseada em dados científicos fiáveis e nos últimos conselhos de saúde oficiais.
    - Usar uma ampla variedade de canais de comunicação e influenciadores para amplificar vozes positivas e diversas e informações confiáveis e precisas a nível comunitário.
2) As palavras importam!
     - Evitar alguns termos: etiquetas geográficas/étnicas (ex.: Vírus Wuhan, Vírus da China), "vítima", " casos suspeitos","infectado" ou "a espalhar para outros".
     - Alguns termos podem contribuir para perpetuar estereótipos negativos ou validar associações falsas entre a doença e outros factores, servindo assim para propagar o medo e desumanizar aqueles que sofrem da doença.
     - Preferir a expressão: distanciamento físico, em vez de distanciamento social. A expressão distanciamento social pode fazer parecer que nesta fase nos devemos isolar daqueles que nos são queridos. Na verdade, apenas nos é pedido que nos afastemos durante algum tempo, fisicamente. O contacto com o que nos são próximos deve ser mantido e privilegiado, sobretudo porque se trata de uma altura de stress acrescido, ainda que por outros meios: videochamadas, telefonemas, mensagens, entre outros.
3) Dicas de comunicação
     - Corrigir equívocos detectados porque é importante reconhecer, no outro, os sentimentos e comportamentos que daí resultam, mesmo que a ideia inicial seja menos correta. Por isso, ao mesmo tempo que mostramos uma atitude empática, podemos clarificar algumas ideias, se notarmos que não estão a ser expostas de forma rigorosa e, dessa forma, evitar mal entendidos.
     - Reforçar a importância da prevenção, das acções que podemos tomar e da procura de ajuda, detecção precoce e tratamento, em todas as plataformas, sempre que estiver ao nosso alcance.
     - Partilhar histórias sempre que estas contribuam para a solidariedade de outros para com os que vivem a doença ou convivem com aqueles que o fazem.
     - Expressar apoio àqueles que trabalham na linha da frente da resposta à COVID-19 (profissionais de saúde, voluntários, profissionais de limpeza, líderes da comunidade, etc.).
4) Vamos cumprir com a nossa parte, Sempre!
      - Governos, meios de comunicação, profissionais de saúde, cidadãos e figuras públicas – todos temos um papel importante na prevenção e combate ao estigma pelo novo Coronavírus. Por isso, todos temos a responsabilidade de comunicar com intenção e propósito nas redes sociais e outras plataformas, quer a amplificar mensagens de esperança e apoio aos que sofrem ou virão a sofrer directamente com a doença, quer com aqueles que, por algum motivo, são mais vulneráveis ao stress causado pela pandemia.

Por toda a informação aqui partilhada convosco semana após semana, não percam o rumo. O Coronavírus continua no nosso dia-a-dia. Mantenha sempre a vigilância e os cuidados de higienização e de distanciamento que a DGS (Direção Geral de Saúde) e a OMS (Organização Mundial de Saúde) todos os dias nos consciencializam para adoptar. Não tenha medo do Estigma. 

Cuide da sua saúde e da saúde dos outros. Sempre e ainda mais agora!!
Até para a semana.

Apresentação Joana Franco

Chamo-me Joana Franco, tenho 32 anos, e sou natural de Geraldes, aldeia pertencente ao Concelho de Peniche.
Enfermeira de Profissão, terminei o Curso de Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil, em Lisboa, no ano de 2010.
Nos anos mais recentes abracei desafios noutros países, nomeadamente Dubai onde fiz parte um projecto na área de Turismo, e em Inglaterra, onde trabalhei como Enfermeira em “Nursing Homes”, a cuidar de Pessoas com Demência.
Em Portugal, demonstrei o meu trabalho como Enfermeira no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos e, actualmente, trabalho na Clínica Psiquiátrica de Lisboa, em Telheiras.
Sou uma pessoa que aceita novas aventuras e, como tal, aceitei o convite de escrever para o Blog ‘Cultura e não Só’, em que apresento novos pontos de vista e dicas para tornar melhor a saúde do leitor.