Adriana Sá inaugura a programação online de música da Culturgest, com Agora, apresentado em streaming hoje, dia 28 às 21:00 no Facebook e no YouTube da Culturgest.
Durante o período em que a população esteve sujeita às novas regras sociais dos estados de emergência, Adriana Sá olhou e ouviu a sua cidade - Lisboa - de um modo muito diferente do habitual.
A percepção que teve do seu meio ambiente alterou-se, levando-a a percorrer as ambivalências, e até os paradoxos, que existem entre os mundos interior e exterior, entre os espaços privado e público.
Ao longo dos passeios que o confinamento obrigatório permitia, foi gravando pequenos e disciplinados diários sonoros que documentavam, sem objectivo, o percurso que fazia desde a sua casa até ao limite da beira-rio. Não procurou nada senão a captação de uma nova atmosfera carregada de novos silêncios mas também, e sobretudo, de novos ruídos, tensões e sons, como se um renovado catálogo de estímulos alterasse o panorama multi-sensorial.
Depois, conjugou esses sons respeitando a sua ordem sequencial, de modo a explorar a dramaturgia do seu percurso diário. Com o convite da Culturgest, Adriana Sá resolveu encarar este diário urbano como uma tranquilizante partitura de formas e cores, combinando-o com a zither e um software que processa sons pré-gravados com base no input desse instrumento.
Lisboa tem sido protagonista das suas composições, mas nunca como Agora parece conduzir-nos com tanta acutilância a nossa escuta, apontando as múltiplas direcções que sugere e dando-nos pistas para nos relacionarmos com a cidade.
O percurso de Adriana Sá foi individual e único, e a sua percepção desse tempo irrepetível, mas a música que fixou e criou será também um possível ambiente musical para a memória colectiva recente dos dias em que todos desacelerámos a cidade que habitamos e que talvez permita escutar mais e melhor o que nos rodeia.