segunda-feira, 17 de julho de 2023

Uma viagem ao coração da China


De Marselha a Pequim, Bernardo Pinheiro Correia de Melo – que mais tarde assumiria o título de Conde de Arnoso – relata nove meses de viagem até ao coração da China, em 1887, para a assinatura do tratado sobre a tutela portuguesa de Macau. Pelo meio, peregrina aos lugares do colonialismo europeu, do Mediterrâneo e de Suez, a Hong Kong ou a Singapura. O livro daí nascido dá pelo nome de Jornadas pelo Mundo e foi publicado pela primeira vez em 1895. É agora integrado na coleção Terra Incognita da Quetzal, com prefácio e preciosas notas de Francisco José Viegas. Disponível a 20 de julho.

«O Conde de Arnoso devia ser também assim: um dos elegantes do reino, cultíssimo, afável, naïve, cheio de monde, de curiosidade, de uma toillete adequada, dos pecados da época e de vontade de literatura.» Podia ser uma personagem de Eça de Queirós, escreve Francisco José Viegas. «Os seus olhos são os de um ocidental vagamente emprestado ao exotismo.» É um exemplo de como os portugueses de então viam o mundo, numa altura em que o conhecimento que as elites europeias têm da China é quase nulo. Interessam-no as personagens notáveis, os negociadores, o cerimonial, os vasos de porcelana, os templos, a presença cristã portuguesa.

Confrontado com o prodigioso passado da China (as termas do imperador Qianlong, os túmulos Ming ou a Grande Muralha) e com as vicissitudes que o Império do Meio atravessava na época, Arnoso nunca abandona o seu olhar cosmopolita, minucioso, chocado diante da penúria, atento aos pormenores, assombrado perante as ruínas ou a promessa do futuro.

Uma viagem da Europa ao grande continente chinês.

Sobre o Autor

Bernardo Pinheiro Correia de Melo, mais conhecido por Conde de Arnoso, nasceu em Guimarães, em maio de 1855. Estudou matemáticas e engenharia, foi oficial do exército e secretário pessoal do rei D. Carlos, que lhe atribuiu o título em 1895. Membro dos Vencidos da Vida, como autor usou também o pseudónimo literário Bernardo Pindela (era filho do visconde de Pindela). Morreu em Famalicão, em 1911. Além de Jornadas pelo Mundo e de Azulejos – com prefácio de Eça de Queirós –, publicou De Braço Dado, em coautoria com o conde de Sabugosa, seu cunhado, e as peças de teatro A Primeira Nuvem e Suave Milagre (adaptação de um conto de Eça). Deixou vasta colaboração na imprensa da época.