É com música de Wolfgang Amadeus Mozart que a Metropolitana brinda o primeiro mês do ano. Trata-se de um dos compositores mais consensuais de toda a História da Música. Existe, porém, uma enorme variedade no seu extenso legado que passa por vezes despercebida. Encontramos aí obras que se distinguem pela ligeireza expressiva e por uma jovialidade contagiante. Mas também outras em que sobressai a comoção expressiva, por vezes majestáticas. Ainda que possam parecer comportamentos incompatíveis, sempre se sobrepõe uma irrepreensível coerência estilística. É essa, afinal, uma das principais qualidades da música da segunda metade do século XVIII, quando eram exaustivamente exploradas as possibilidades técnicas dos instrumentos, o planeamento formal da partitura, encadeamentos harmónicos complexos e efeitos dramáticos de pendor teatral. Nunca compromete, porém, a fluência do discurso musical que tanto apreciamos e que temos agora a oportunidade de revisitar em três fins de semana seguidos, com sinfonias, concertos e música de câmara do génio de Salzburgo.
Em 1777 Mozart decidiu sair novamente de Salzburgo, dessa vez para viajar até à cidade de Mannheim, onde estava então sediada aquela que seria a melhor orquestra da época, constituída por um conjunto de músicos cuja qualidade permitia implementar as mais modernas técnicas de escrita orquestrais. Apesar de o Concerto para Flauta e Orquestra N.º 1 responder à encomenda de um abastado flautista amador, reflete esse mesmo brilhantismo instrumental. Já a sinfonia Júpiter, transporta-nos até ao verão de 1788, quando o músico compôs as suas últimas três sinfonias num só fôlego.
Trata-se de um «tríptico» que termina brilhantemente com esta sinfonia. O mistério que alguns lhe associam transparece na gravidade de largos momentos da partitura, como acontece no primeiro andamento, onde se exalta por vezes o estilo sério da abertura francesa. Tudo prossegue numa bem humorada oposição entre a mais elevada eloquência dramática e uma simplicidade de escrita deslumbrante.
O Testamento de Mozart
Orquestra Metropolitana de Lisboa
Nuno Inácio Flauta e Direção Musical
Sábado, 16 de janeiro, 11h00, Teatro Thalia