Como é habitual no final do ano, Barack Obama desvendou a lista de livros, músicas e séries de que mais gostou. Em 2020, entre as 17 leituras selecionadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos da América, encontram-se O Crepúsculo da Democracia, de Anne Applebaum, e Montanhas Douradas, de C Pam Zhang, livros com a chancela Bertrand Editora.
Disponível em Portugal desde setembro, o mais recente livro de Anne Applebaum, vencedora do prémio Pulitzer em 2004 e historiadora reconhecida em temas como o comunismo e política internacional, faz uma análise histórica e rigorosa de uma transformação política e social que está a deformar as nossas sociedades, com vista a denunciar esta ameaça crescente e mapear o caminho para recuperarmos os nossos valores democráticos.
Em O Crepúsculo da Democracia, a autora combina análise histórica e atual, com clareza e observação. Num registo sabiamente equilibrado entre o pessoal e o jornalístico, fundamentado no seu conhecimento profundo de casos históricos, como o estalinismo e a Alemanha nazi, mas também nas experiências pessoais na Polónia (o seu marido foi ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Donald Tusk), Applebaum disseca as transformações políticas em marcha no Ocidente, com o enfraquecimento das democracias e o aumento dos adeptos dos sistemas políticos iliberais e autoritários, analisando os casos mais pertinentes da política mundial, de Boris Johnson ao desmantelar do Estado de direito na Polónia, passando pela Espanha e pela Hungria, para citar alguns.
Com publicação prevista para março, Montanhas Douradas é uma obra de ficção que constou na lista de semifinalistas do Booker Prize em 2020. Romance de estreia de C Pam Zhang passado durante a corrida ao ouro na América, gótico e western em partes iguais (com um toque de fábula), Montanhas Douradas acompanha Lucy e Sam, que, com apenas dez e doze anos de idade, perderam os pais e partem numa viagem fantasmagórica – em direção a um futuro incerto, mas também em direção a um passado desconhecido – com a paisagem californiana e a sua beleza impiedosa não apenas como pano de fundo, mas como personagem.
Numa visão geral, o livro explora a raça num país em expansão e questiona sobre o lugar onde pertencem os imigrantes. Mas, página a página, é nas memórias que ligam e separam famílias e na saudade do seu país de origem que assenta este livro descrito pelo The New York Times como viciante e maravilhoso.
Com uma prosa sucinta, porém rítmica e rica, este é um romance íntimo e selvagem sobre a memória, o sentido de pertença e a busca de um lugar no mundo. Uma inesquecível história que anuncia C Pam Zhang como uma das mais deslumbrantes novas vozes na literatura.