Alguns anos depois de perder a visão, o psicólogo e professor universitário Luís Fernandes – que já partilhava corpo e mente com o poeta João Habitualmente, o seu heterónimo literário – tirou um curso de massagem terapêutica e fez nascer Lopes Massagista, permitindo-se voltar a ver parte do mundo através das mãos. Pela prática do massagista, o psicólogo constatou, num tempo em que o estímulo intelectual e imagético é permanente, como uns se esquecem do corpo e outros se focam apenas nele, perpetuando o velho dualismo estabelecido por Descartes, que separa e hierarquiza corpo e mente e faz crer que um obedece mecanicamente ao comando do outro. Desse trabalho surgiu As Lentas Lições do Corpo, um conjunto surpreendente de ensaios sobre a relação corpo-mente, que merece elogios de figuras como Álvaro Domingues, Gonçalo M. Tavares ou Valter Hugo Mãe e chega às livrarias a 14 de janeiro.
Nesta obra, o autor questiona: mas por que motivos continuamos tão resistentes à dimensão mais profunda do corpo, que é a da sua relação com a mente? Entusiasmadas com os constantes avanços das neurociências, as próprias ciências psicológicas têm reduzido com demasiada facilidade o corpo ao sistema nervoso. Em As Lentas Lições do Corpo, aborda-se justamente o organismo global, expressão que designa um nível superior de organização da matéria viva que somos. Questionando as fronteiras rígidas entre os saberes e as respetivas modalidades narrativas, este surpreendente livro sobre a descoberta do corpo parte do trabalho de massagem, e da forma como ela se liga à dimensão psíquica do indivíduo, para abordar a psicocorporalidade, as relações entre o corpo e a mente.
Sobre o Autor
Luís Fernandes nasceu no Porto, em 1961. Licenciou-se e doutorou-se em Psicologia na
Universidade do Porto, onde é professor desde 1986 e dirigiu durante vários anos o
Centro de Ciências do Comportamento Desviante, que lançou em Portugal esta área de
especialidade.
Foi distinguido, em 1998, com o prémio Fernand Boulan da Association Internationale de
Criminologues de Langue Française e, em 2014, com o Prémio de Excelência Pedagógica
da Universidade do Porto. É membro da Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos desde 2015.
Nos últimos anos tem desenvolvido interesse no campo da corporalidade e tem também dedicado atenção à
complementaridade entre as escritas literária e das ciências psicológicas enquanto instrumentos de
autoconhecimento e de formação dos futuros psicólogos.
Durante uma parte considerável do seu percurso académico dedicou-se à caracterização do fenómeno droga em
contexto urbano. Em 1996, ajudaria a fundar o Observatório Permanente de Segurança, responsável pelos
primeiros estudos sistemáticos sobre o sentimento de insegurança em Portugal.
Publicou mais de 120 títulos, entre revistas científicas nacionais e internacionais, capítulos em obras coletivas e
livros. Escreve também há vários anos na imprensa (O Comércio do Porto, Público ou A Página da Educação). Na
literatura, sob pseudónimo, publica em vários géneros, do diário ao conto, da microficção à poesia.