A Dom Quixote edita na próxima terça-feira, 5 de Julho, o manifesto em forma de livro, "Contra a Guerra, A Coragem de Construir a Paz”, escrito pelo Papa Francisco, na qual o bispo de Roma e chefe da Igreja Católica afirma que o que está a acontecer na Ucrânia é “uma barbárie”, “um sacrilégio” que temos de deixar de alimentar. O Papa apela à construção da paz e critica a falta de memória da Humanidade, sublinhando que “precisamos de diálogo”, “criatividade diplomática” e “uma política de longo alcance capaz de construir um novo sistema de convivência que não se baseie mais nas armas, no poder das armas e na dissuasão".
“Desde o princípio do meu serviço como bispo de Roma que tenho falado da III Guerra Mundial, dizendo que já estamos a vivê-la, embora por enquanto em peças soltas. Essas peças tornaram-se cada vez maiores, juntando-se umas as outras… A guerra não é solução, a guerra é uma loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se autoalimenta consumindo tudo! Além do mais, a guerra é um sacrilégio, que destrói o que há de mais precioso a face da nossa Terra, a vida humana, a inocência dos mais pequenos, a beleza da criação. A guerra deixou o mundo pior. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma derrota perante as forças do mal”, escreve Francisco ao longo das 190 páginas, onde sublinha: “Se tivéssemos memória, saberíamos que a guerra, antes de chegar à linha da frente, deve ser detida no coração”. Para acrescentar posteriormente: “O ódio, antes que seja demasiado tarde, deve ser erradicado dos corações."
O Papa critica inclusive o investimento em armas e considera “imoral” o uso da energia atómica em contextos de guerra: “Quem poderia imaginar que menos de três anos o espectro de uma guerra nuclear apareceria na Europa? Então, passo a passo, estamos caminhando para a catástrofe. Caminhamos como se fosse inevitável. Em vez disso, devemos repetir com força: não, não é inevitável! Se tivéssemos memória, não gastaríamos dezenas, centenas de milhões de milhões de dólares em rearmamento, em equiparmo-nos com armas cada vez mais sofisticadas, em aumentar o tráfico de armas que acabam matando crianças, mulheres e idosos: 1981 biliões de dólares por ano, de acordo com os cálculos de um grande centro de pesquisa de Estocolmo.”
Francisco não poupa ninguém e menciona a ganância dos poderes nas relações internacionais baseadas na força militar, a ostentação dos arsenais bélicos, e as motivações profundas daqueles que estão por trás dos conflitos que tingem o planeta de sangue. Confrontos que semeiam a morte, a destruição e o rancor, que por sua vez provocam mais morte e mais destruição. O diálogo como arte da política, a construção prudente da paz, que parte do próprio coração e se estende pelo mundo inteiro, a proibição das armas atómicas, e o desarmamento como escolha estratégica são indicações concretas e operacionais que Francisco nos confia para que a paz se possa realmente tornar o horizonte partilhado, sobre o qual construir o mundo de amanhã.
“Perante as imagens de morte que nos chegam da Ucrânia, é difícil ter esperança”, assume Francisco. “No entanto, há milhões de pessoas que não aspiram à guerra, que não justificam a guerra, mas pedem a paz. Há milhões de jovens que nos pedem para fazer todo o possível e impossível para deter a guerra, para deter as guerras." E acrescenta: "É pensando primeiro neles, nos jovens e nas crianças, que devemos repetir juntos: nunca mais à guerra."
Sobre o Autor
Jorge Mario Bergoglio é o primeiro papa oriundo do continente americano. Nascido em Buenos Aires, Argentina, a 17 de dezembro de 1936, entra para a Companhia de Jesus em 1958 e é ordenado sacerdote a 13 de dezembro de 1969. Torna-se arcebispo de Buenos Aires em 1998 e cardeal em 2001. Entre 2004 e 2008 é presidente da Conferência Episcopal argentina. A 13 de março de 2013 é eleito papa e escolhe o nome de Francisco. É autor de vários livros publicados pela D. Quixote, nomeadamente A Felicidade Nesta Vida (2017) e Deus Amigo (2019).