quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Histórias da descolonização que ficaram por contar



É um dos acontecimentos mais marcantes da História recente de Portugal e um assunto ainda difícil de abordar: a chegada de mais de 600 mil pessoas a Portugal depois do 25 de Abril de 1974. Em Retornados – E a vida nunca mais foi a mesma, a jornalista e autora Marta Martins Silva reúne 21 histórias impressionantes de famílias que foram obrigadas a abandonar uma vida em África e vir para um Portugal que lhes era desconhecido.

Neta de «retornados», termo pelo qual foram designados todos os que chegaram nestas condições, Marta Martins Silva descreve como esta realidade moldou a vida de muitas famílias.

«Cresci a ouvir a minha avó falar das arcas de madeira que conseguiram trazer, dos panos africanos coloridos que saltavam lá de dentro sempre que as abríamos, uma espécie de mundo encantado que, por instantes, perfumava a atmosfera de cheiros a que eu nunca tinha tido acesso.Cresci a ouvir a história dos meus avós, mas nunca a registei. (…) As histórias que se seguem não são, por isso, a do Manuel e da Graciosa (…), mas têm muito em comum com a deles. São histórias de quem foi para África à procura de uma vida melhor, lutou para a conseguir e foi obrigado a fugir com pouco ou nada do que amealhou».

Este livro é um exercício de preservação da memória coletiva de um país à beira dos 50 anos de democracia. «Olhar para o passado é fundamental para compreender o presente e antecipar o futuro. Que saibamos fazê-lo sem medo nem tabus», escreve a autora. 

Sobre a Autora

Marta Martins Silva nasceu em Aveiro, em 1984. Licenciou-se em Jornalismo e Ciências da Comunicação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e trabalha desde 2007 na revista Domingo, do Correio da Manhã. Fascinada pelas histórias dos outros e pela História do país, escreveu dois livros sobre a correspondência durante a guerra colonial, e estreia-se na Contraponto com este Retornados, uma forma de dar voz a milhares de portugueses que no pós-25 de Abril foram obrigados a começar de novo, uma realidade que nunca lhe foi estranha por ser (orgulhosa) neta de retornados.