segunda-feira, 14 de julho de 2025

Hannah Arendt: a pensadora de um passado sombrio que inspira um presente inquietante



Em dezembro de 2025 completam-se 50 anos sobre a morte da grande filósofa Hannah Arendt, mas os seus pensamentos são surprendemente atuais. Lyndsey Stonebridge entendeu que, não só vale a pena revisitá-los, como é mesmo recomendado. Escrito com paixão e autoridade, o livro Somos Livres para Mudar o Mundo faz luz sobre a vida e a obra de Arendt e mostra porque têm as suas ideias uma atualidade perturbante.

A violência e a instabilidade do mundo atual não foram estranhas a Hannah Arendt. Tirania, invasões, desencanto, a política da pós-verdade, teorias da conspiração, racismo, migrações em massa, a banalização do mal: na sua vida assistiu a tudo isso. Nascida na primeira década do século XX, Hannah Arendt fugiu da Europa fascista para reconstruir a vida na América, onde se tornaria uma das intelectuais públicas mais influentes – e controversas – do mundo. «Hannah Arendt é uma pensadora criativa e complexa; escreve sobre poder e terror, guerra e revolução, exílio e amor e, acima de tudo, sobre liberdade. Lê-la nunca é um mero exercício intelectual, é uma experiência», escreve Lyndsey Stonebridge na introdução do livro. 

Questionar – pensar – era a principal defesa de Arendt contra a tirania. Em vez das forças das trevas e da insanidade, propunha uma política de pluralidade, espontaneidade e desobediência. Amar o mundo, ensinava Arendt, significava ter a coragem de o proteger. Hoje, o mundo é palco de conflitos e discussões que mostram quão destrutiva e vulnerável pode a condição humana ser em simultâneo. «Um desencanto cínico em relação à política caracteriza o nosso tempo, tal como ocorreu no de Hannah Arendt, o mesmo se passando com um ódio incipiente pronto para ser dirigido contra tudo e todos. As teorias da conspiração florescem. A autocensura regressou. Muitos de nós estão sós. Agora, juntámos a realidade do apocalipse climático à ameaça do apocalipse nuclear.»

A autora conta que conheceu a obra de Hannah Arendt quando fazia pesquisa para sua pós-graduação, no final da década de 1980 e da Guerra Fria. «Mas foi apenas depois de me ter sentado a tentar compreender porque deveríamos estar a lê-la agora, na época de Donald Trump e Vladimir Putin, que me apercebi de que era da humanidade obstinada da sua criatividade feroz e complexa que poderia retirar as principais lições», escreve a autora. «O que se segue [o livro] é uma história de como Hannah Arendt veio a refletir sobre o seu próprio tempo, contada numa tentativa de pensar de uma forma mais provocadora e criativa sobre o nosso. É também uma conversa, por vezes combativa, entre o presente e o passado dela.»

Somos Livres Para Mudar o Mundo chega às livrarias a 17 de julho. 

Sobre a Autora

Lyndsey Stonebridge é professora de Humanidades e Direitos Humanos na Universidade de Birmingham e membro da British Academy. Os seus livros anteriores incluem Placeless People: Writing, Rights, and Refugees, que venceu o Modernist Studies Association Book Prize e foi considerado um Choice Outstanding Academic Title; The Judicial Imagination: Writing After Nuremberg, galardoado com o British Academy Rose Mary Crawshay Prize for English Literature; e a coletânea de ensaios Writing and Righting: Literature in the Age of Human Rights. É uma presença frequente como comentadora nos média.  Somos Livres para Mudar o Mundo foi finalista do PEN/Jacqueline Bograd Weld Award for Biography e do Orwell Prize for Political Writing.