quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Electra - a última encenação de Carlos Avilez



A peça Electra, em cena até ao dia 17 de dezembro, tornou-se a última encenação de Carlos Avilez (falecido a 22 de novembro aos 88 anos de idade).

 A trilogia “Mourning becomes Electra, que normalmente tem o título português de “Electra e os Fantasmas”, mas que na versão do TEC se chamará apenas Electra, de Eugene O’Neill é inspirada nas antigas tragédias gregas e na dramaturgia shakespeariana.  Como o próprio título indica, a obra de O’Neill deve ser entendida enquanto versão contemporânea da Oresteia de Ésquilo.

A ação da trilogia decorre na mansão da família Mannon, localizada em New England, EUA. Cada elemento narrativo principal da tragédia grega encontra nesta obra a sua correspondência. Ao regressar a casa, o herói de guerra (Agamenon/Ezra) é assassinado pela sua esposa infiel (Clitemnestra/Christine) com a ajuda do amante (Aegisthus/Adam). Posteriormente, os filhos (Electra/Lavínia, Orestes/Orin) vingam-se do amante e da mãe, vindo a reconhecer a sua parte na história de crimes e castigos da família, marcada pela luxúria e traição. Além destes elementos específicos da Oresteia, o que O'Neill transfere para a sua trilogia é a força poderosa de uma maldição familiar que atravessa várias gerações, a de um destino trágico provocado não por ações sobrenaturais mas por complexos psicológicos de uma tradição civilizacional que reprime e oprime a vivência plena da sexualidade humana.

Com encenação de Carlos Avilez e um elenco de prestígio, o espetáculo conta com o desempenho de Carla Maciel no papel da esposa adúltera, Christine, e de Miguel Loureiro como Ezra Mannon, o pai da família. No centro da trilogia teremos Bárbara Branco no papel de Lavínia (ou Electra), mulher inteligente e ousada que vai ficando infetada de destruição a cada descoberta que faz sobre si mesma. David Esteves representará o papel do seu irmão Orin, uma das personagens mais problemáticas de O'Neill, não só enquanto estudo de caso psicanalítico, mas também porque encarna um jovem que se sente incapaz de fazer sentido do mundo. Acresce ainda a colaboração de vários outros atores como João Craveiro, Rita Calçada Bastos, Diogo Mesquita ou Tobias Monteiro. A dramaturgia e adaptação de Graça P. Corrêa permitem a concretização de uma encenação bastante atual, num espaço cenográfico de Fernando Alvarez iluminado pelo desenhador de luz Manuel Abrantes, que evidencia a metáfora do subconsciente de toda a família humana Mannon. De destacar a participação do músico Tiago Machado, ao compor alguns temas para a peça .