terça-feira, 21 de outubro de 2025

"Uma Aldeia no Terceiro Reich" como foi vivido o nazismo numa pequena povoação dos Alpes



A Dom Quixote edita hoje, 21 de outubro, "Uma Aldeia no Terceiro Reich", das historiadoras Julia Boyd e Angelika Patel que explicam como vidas vulgares foram transformadas pela ascensão do fascismo e tentam compreen­der melhor os nazis olhando para o quotidiano de uma aldeia situada no sopé dos Alpes onde a célebre realizadora Leni Riefenstahl esquiava.

"Neste livro as histórias íntimas e pormenorizadas das vidas dos resi­dentes são colocadas em contraste com a vasta tela do III Reich", escrevem as historiadoras na introdução desta narrativa que permite aos leitores viver e respirar a história de Oberstdorf, a aldeia mais a sul da Alemanha e dos seus dez mil habitantes – com todos os seus problemas, sonhos, esperanças e fraque­zas, compromissos e contradições.

Alemães comuns, uns chamados para combater na União Soviética, outros perseguidos pelas medidas anti-judaicas, todos sujeitos à privação e ao racionamento. Mas que, consoante a sua ética e personalidade, se comportaram de forma muito diferenciada.  O caso mais emblemático é o do presidente do município, Ludwig Fink(1888–1974), que antes de ser nomeado em 1934, era chefe dos limpa-chaminés do distrito. Aparentemente um devoto nazi, Fink ficou conhecido, no entanto, por ter protegido os judeus que viviam sob a sua jurisdição, ajudar as freiras a sobreviver e apoiar os aldeões levados a tribunal. Localmente era muito apreciado, mesmo por aqueles que não partilhavam as suas ideias políticas. 

Ou o médico da terra, Dr. Fritz Kalhammer (1902–1968) que, subiu rapidamente na hierarquia do partido. Apesar da sua importância, era um homem moderado, que protegia os judeus e procurava cuidar bem das pessoas sob a sua jurisdição. "Fink e Kalhammer eram ambos nazis fervorosos em altos cargos de poder e influência, mas parece que também eram seres humanos decentes – uma combinação rara."

Mas descobrimos também as ligações da famosa realizadora alemã Leni Riefenstahl (e a brilhante esquiadora que era) a este local no alto dos Alpes Bávaros, um lugar onde, durante centenas de anos, os habitantes viveram vidas simples enquanto a História era feita em outros lugares.  Mas estas páginas passam também judeus que sobreviveram, como Hertha Stolzenberg (1889–1960). Meio-judia, desistiu de uma carreira de sucesso como cantora de ópera em 1932 para ir viver com a mãe, que era totalmente judia, em Oberstdorf, onde esperava escapar ao crescente antissemitismo. Como membro da igreja pro­testante da aldeia, ensaiou o seu coro, conduzindo-o a um elevado nível de excelência. Embora provavelmente se soubesse que ela e a mãe eram judias, as duas mulheres sobreviveram ilesas à guerra. 

E a madre superiora Maria Biunda (1891–1972), responsá­vel pelo pequeno grupo de freiras franciscanas que residiam em Oberstdorf desde 1907. As irmãs geriam uma creche, ensinavam as raparigas da aldeia até aos 14 anos e tiveram um ateliê de costura até novas leis nazis restringirem as suas atividades, em meados da década de 1930. Com a ajuda do presidente da câmara e de outros residentes, as freiras sobreviveram à guerra e continuam presentes na aldeia. 

Sobre as Autoras

Viúva de um ex-diplomata, Julia Boyd morou na Alemanha de 1977 a 1981. Atualmente, vive em Londres. 

Angelika Patel nasceu numa família antiga de Oberstdorf. Estudou História e Literatura Alemã antes de fazer um MBA no INSEAD, em Fontainebleau.Vive entre Londres e Oberstdorf.