sexta-feira, 23 de junho de 2023

Santa Casa Alfama - Cartaz Completo



Foi ontem apresentada a edição 2023 do Festival Santa Casa Alfama, a edição deste ano traz algumas novidades em relação às edições anteriores. O "Cultura e Não Só" faz um resumo daquilo que pode ver nos diversos palcos deste festival dedicado ao Fado.

O festival Santa Casa Alfama está de regresso para mais uma edição imperdível. Nos dias 29 e 30 de setembro este evento celebra o encontro de um país com a sua própria música. Durante dois dias a canção portuguesa brota das ruas da cidade de Lisboa e o povo está lá para ouvi-la. As vielas de Alfama constituem a paisagem que se entrelaça com as vozes, o trinar da guitarra, a poesia que fica solta pelas ruas… E os vários palcos espalhados pelo bairro lisboeta são a prova viva de que o fado consegue ser muita coisa ao mesmo tempo, sem nunca deixar de ser português. Depois das confirmações de nomes como Camané, Beatriz Felício e Geadas, ou da grande Homenagem a Hermínia Silva, é a vez de completar a programação com os nomes de Sara Correia, Teresa Salgueiro e Miguel Moura no Palco Santa Casa e mais uma série de outras propostas imperdíveis na programação de espaços como o Palco Ermelinda Freitas, no Rooftop Terminal de Cruzeiros de Lisboa, o Palco Amália, no Auditório Abreu Advogados, o Palco Bogani, no Grupo Sportivo Adicense, o Palco Santa Maria Maior, no Largo Chafariz de Dentro, o Palco Santa Casa Futuro, na Sociedade Boa União, e ainda o novo palco instalado no Memmo Hotel Alfama.

Desde muito cedo que Sara Correia é presença habitual nas melhores casas de fado da cidade de Lisboa. Vive o fado desde criança. O facto de ter crescido numa família fadista ajudou-a a que, desde cedo, vivesse rodeada de música e de músicos, e a viver essa vida de uma forma bastante natural. Por isso, canta com a propriedade e força de quem cresceu no fado. Sara Correia tinha apenas 13 anos quando se consagrou vencedora da Grande Noite do Fado e, logo de seguida, foi convidada para cantar numa das casas de fado mais míticas da cidade, a Casa de Linhares. Aí, teve o privilégio de cantar e aprender ao lado de grandes nomes do fado, nomeadamente Celeste Rodrigues, Jorge Fernando, Maria da Nazaré, entre outros. "Sara Correia”, o primeiro álbum editado com o selo da Universal Music Portugal, foi criado em parceria com o produtor Diogo Clemente. Em Portugal, a crítica celebrou a estreia de Sara Correia e aplaudiu unanimemente aquela a quem chamaram a “grande voz da nova geração”. O álbum valeu-lhe, em 2019, duas nomeações na primeira edição dos Play – Prémios da Música Portuguesa. Entretanto, em 2020 lançou “Do Coração”, o seu segundo disco de estúdio, novamente produzido e concebido em parceria com Diogo Clemente. Além das melodias do fado tradicional, o disco conta com composições de Joana Espadinha, Carolina Deslandes, Luísa Sobral, António Zambujo, Jorge Cruz e o já citado Diogo Clemente. Em 2021 o álbum venceu um dos PLAY – Prémios da Música Portuguesa, na categoria “Melhor Álbum de Fado”. No entanto, esse ano ficaria invariavelmente marcado pela nomeação de Sara Correia para o mais importante prémio mundial de música, o Grammy Latino. Em 2022 editou “Quero é Viver”, um original de António Variações de 1983. A canção atinge, na semana de lançamento, os tops digitais e as tendências do YouTube. O fado é-lhe intrínseco e ao vivo consegue essa rara proeza de nos prender ao chão ao mesmo tempo que nos faz elevar. E é isso que voltará a acontecer no Palco Santa Casa, dia 30 de setembro.

Miguel Moura é um dos nomes mais promissores da música portuguesa. O Alentejo corre-lhe no sangue. Em Moura nasceu, cresceu e viveu. A casa da avó Adelaide foi o seu porto de abrigo e foi lá que se apaixonou pela música. Aos 14 anos, a voz da fadista Mariza chegou-lhe ao ouvido. Debaixo do arco das escadas da casa da avó cantou pela primeira vez o tema "Ó gente da minha terra”. As gentes da sua terra ouviram e rapidamente organizaram uma noite de fados em que foi cabeça de cartaz. Era certo para todos que Miguel ia dar pano para mangas. E, de facto, desde aí nunca mais parou! De mãos dadas com a música e com a sua terra, o destino leva-o até à VI Gala de Moura. Lá entoou a moda alentejana “Verão” e, com transmissão nas plataformas digitais, o jovem artista contou com mais de 430 mil visualizações. A expectativa à volta da sua voz foi crescendo com os anos e em 2023 finalmente surge o primeiro disco. “Quem Sou Eu” pretende ser uma viagem pelas raízes de Miguel Moura, pela sua transformação enquanto homem e pelos “sacrifícios” feitos pelo sonho de cantar, como, aliás, retrata o seu single “Tenho de Abalar”. Este álbum, que tem fado mas também um pouco de música pop ligeira, inclui temas já conhecidos do público com “Amor Maior”, “Andei Sozinho”, “Nossa Senhora do Carmo” e ainda uma versão do tema “Para os Braços da Minha Mãe” de Pedro Abrunhosa. Alguns desses temas poderão ser ouvidos dia 30 de setembro, no Palco Santa Casa.

Teresa Salgueiro esteve sempre em movimento. Desde que subiu ao palco pela primeira vez em 1987, com apenas 18 anos, não mais deixou de se apresentar nas mais prestigiadas salas de espectáculo do mundo. Primeiro como membro fundador dos Madredeus, com três milhões de discos vendidos, e nos últimos 15 também em nome próprio. Nesse percurso destacam-se discos como “O Mistério”, “La Golondrina y el Horizonte” (dedicado à música tradicional latino-americana) e “O Horizonte”, este último galardoado, por unanimidade, com o Prémio José Afonso. Seja como actriz, notoriamente no filme “Lisbon Story” de Wim Wenders, seja como a solista principal do orquestral “Silence, Night and Dreams” de Zbigniew Preisner, o seu enorme talento tem-lhe permitido colaborar com diversos nomes das mais variadas formas de expressão artística: de Caetano Veloso a Coba, de Patrick Watson a José Carreras, de Mário Lúcio a Carlos Paredes ou Lucio Dalla... Esta capacidade invulgar de se reinventar, de estender a sua sensibilidade artística, imprimiu um timbre único ao percurso da Teresa Salgueiro. Dos teatros aos estúdios, da escrita de letras à autoria de canções, da concepção de espectáculos à produção dos seus próprios discos, o seu carisma discreto, o seu canto e sua voz inconfundível conquistaram todos os que com ela partilharam (e partilham) a viagem desde há 35 anos. E em 2023 somos convidados a ir ao encontro de uma das artistas com mais história na música portuguesa. No festival Santa Casa Alfama espera-se um espectáculo de celebração de uma vida dedicada à música, com arranjos inéditos para canções que marcam a sua carreira ao mesmo tempo que a projectam para o futuro. Este é um instante no tempo em que o tempo pára para ouvir Teresa Salgueiro a cantar - dia 30 de setembro, no Palco Santa Casa.

O festival Santa Casa Alfama é também uma autêntica experiência, sintonizada com a alma e a beleza da cidade. E isso fica bem evidente no palco instalado no Rooftop Terminal de Cruzeiros de Lisboa. Com uma vista privilegiada sobre a cidade, o Palco Ermelinda Freitas propõe um Fado ao Pôr-do-sol e já é um dos preferidos do público. Na edição deste ano, no primeiro dia de festival, 29 de setembro, a proposta é recriar o ambiente de uma casa de fados, neste caso a mítica “Mesa de Frades”. Mais do que um restaurante, este é um espaço icónico do ‘roteiro fadista’. Nesta antiga capela, repleta de azulejos do séc. XVIII, o fado acontece todas as noites com fadistas da nova geração e vozes consagradas do fado. No Rooftop Terminal de Cruzeiros de Lisboa a ideia passa por recriar esse ambiente em pleno festival e, para isso, o anfitrião Pedro de Castro convida as vozes de Tânia Oleiro, Rodrigo Rebelo de Andrade e Ana Sofia Varela para um final de tarde inesquecível... No segundo dia de festival, dia 30, é a vez de o público ser convidado a estar “Em Casa d`Amália”. Em 2019 José Gonçalez criou um projeto que devolvia à casa de Amália na rua de São Bento o ambiente tertuliano tão célebre durante a vida da maior artista portuguesa de todos os tempos. Ao longo de décadas Amália Rodrigues recebeu em sua casa muitas tertúlias onde sem nenhum tipo de censura estética, ideológica, política, ou outra, todos cabiam, todos tinham lugar. Em 2020 o projeto ganhou vida no programa “Em Casa d` Amália”, onde, ao longo de várias temporadas, José Gonçalez convidou artistas de todas as artes e de todas as áreas, partindo do fado para noites infindáveis de música e conversa. O projeto volta a sair do estúdio para o palco do Ermelinda Freitas, no Rooftop do Terminal de Cruzeiros de Lisboa. Desta feita o anfitrião José Gonçalez recebe um grupo de músicos e fadistas que dispensam apresentações: Raquel Tavares, Ângelo Freire, Flávio Jr., Jorge Fernando e Vânia Duarte prometem criar mais uma série de memórias marcantes para o público do festival.

A proposta do Palco Amália, no Auditório Abreu Advogados, prova que o fado é um género que continua bem vivo nos dias que correm, com vozes que garantem o presente e o futuro da nossa música, sempre rica e diversa. No dia 29, este palco recebe as vozes de Mário Lundum e Soraia Cardoso. A jovem encontrou no fado a raíz da sua voz e tem feito um percurso em diálogo com as suas referências. Quanto a Mário Lundum, sempre marcou a diferença no meio da música. E foi isso que também fez no último disco, "Imateral", editado em 2021. No dia 30, o fado vai ficar a cargo de Francisco Moreira e Carmo Moniz Pereira. O jovem fadista vai levar ao palco alguns temas do disco "Todos os Fados são Meus", editado em 2020; já Carmo Moniz Pereira promete conquistar o público do Palco Amália com a sua voz clássica e enraizada na tradição.

Neste grande festival de fado, a música e o espaço não são coisas que se separem. E é a partir dessa união que surgem os momentos mais emocionantes para o público. Nesse sentido, os grupos e as coletividades também são convidados a participar nesta grande festa. Uma prova disso mesmo é o Palco Bogani, instalado no Grupo Sportivo Adicense. No dia 29, o público é convidado a ouvir as vozes de José Leal e Mel; no dia 30, é a vez de João Caldeira e Sandra Correia conquistarem o aplauso do público presente no Santa Casa Alfama.

No Palco Santa Maria Maior desfilam os grandes talentos de uma freguesia que vive o fado durante todos os dias do ano. Estas vozes, ligadas aos bairros mais típicos de Lisboa, como Alfama, claro, são genuínas, populares e capazes de arrebatar qualquer plateia. No Largo do Chafariz de Dentro os fadistas vêm aos pares: no dia 29, Sónia Santos e Jaime Dias abrem caminho para Ricardo Mesquita e Ana Marta; e no dia 30, os jovens Inês Pereira e Luís Capão precedem as atuações de Beatriz Felizardo e Vítor Miranda. Aqui não faltará tradição e também muito coração.

No Fado, a ligação ao passado foi sempre impulso de futuro e de renovação. São assim os fados do Palco do Museu do Fado, onde as vozes de Francisco Salvação Barreto, Cristina Clara, no dia 29, e Matilde Cid e Ricardo Luís, no dia 30, prestam tributo à memória do Fado, com a energia criativa e renovadora que sempre caracterizou este género musical. No registo mais intimista do fado tradicional ou através do diálogo musical com outras sonoridades, aqui redescobrimos que o Fado e a música portuguesa podem abrir-se ao mundo, sem perder a autenticidade.

Além dos fadistas consagrados, o festival também tem espaço para os mais jovens e até para os amadores, como prova o Palco Santa Casa Futuro, instalado na Sociedade Boa União. No Palco Santa Casa Futuro ficamos a conhecer algumas das principais promessas do fado, vozes que garantem o futuro da nossa música. No primeiro dia, 29 de setembro, a programação fica a cargo de Escola de Fado Amador e Criativo de Alverca. Fundada em 2002, a E.F.A.C.A. partiu da ideia da fadista Alice Nunes, depois de se ter apercebido da necessidade de criar um espaço onde jovens fadistas e músicos pudessem desenvolver os seus talentos, acompanhados de profissionais que estão há muitos anos no meio fadista. E alguns destes jovens fadistas passam agora pelo Palco Santa Casa Futuro no dia 29. No segundo dia de festival, dia 30, as propostas fadistas que passam pela Sociedade Boa União são da responsabilidade da Associação Fado Cale Coimbra. Uma referência na comunidade em que se insere, esta associação serve de suporte e apoio para os amantes de fado, ouvintes e praticantes, promovendo e orientando a possibilidade de experimentação e materialização de ideias e criações. No Santa Casa Alfama a Associação Fado Cale Coimbra dá a conhecer as vozes promissoras de Flávia Pereira, Lara Rodrigues e Leonel Barata, acompanhados pelos músicos Sebastião Pereira (guitarra portuguesa), Rui Marques (viola de Fado) e Diogo Pinto (viola baixo).

A cada edição do maior Festival de fado do mundo, há sempre espaço para novidades e surpresas. E, este ano, há mais um palco que promete conquistar o público. Instalado no Hotel Memmo Alfama, este palco promete oferecer uma bela programação fadista num espaço que prima pela classe e pelo charme que transmite aos visitantes. E perfeitamente sintonizadas com esta atmosfera estão as vozes de José da Câmara, Gustavo Pinto Basto e Teresa Brum, os fadistas que darão o pontapé de saída para a história do Palco Memmo Hotel Alfama.