O “Fotógrafo de Abril”, como é conhecido, por ter feito os registos fotográficos mais icónicos do dia mais importante da História recente de Portugal – alguns deles, estarão presentes na exposição na zet Gallery, faz uma retrospetiva dos últimos 50 anos da História Mundial, numa exposição que é um marco na sua carreira. Alfredo Cunha pretende, agora, explorar os limites artísticos da fotografia e dar por terminada a sua carreira como fotojornalista.
Se pudéssemos usar um mapa para colocar pontos onde Alfredo Cunha esteve, ficaria preenchido quase na sua totalidade. Nesta exposição, além das icónicas e incontornáveis fotografias do 25 de Abril de 1974, contam-se histórias com imagens do processo de descolonização e guerra civil nas ex-colónias; da pobreza do período pós ditadura em Portugal; das guerras do Médio Oriente; da forma como viu o Minho que o recebeu, no final dos anos 1990, ou da pandemia de 2020; e, claro, dos inúmeros retratos de quem esteve e ficou na história contemporânea do nosso país.
Fotojornalista há mais de 50 anos, com vários projetos artísticos neste percurso, faz desta exposição um marco na sua carreira. “É uma transição para uma nova forma de fotografa. Nos últimos trabalhos, já se deteta essa mudança, porque eu já não sou fotojornalista, sou apenas fotografo que pretende fazer um trabalho contemporâneo. Esta exposição é um marco e uma fronteira entre o meu trabalho passado, em que faço uma retrospetiva da minha carreira, e dá o mote para meu trabalho futuro”, explica Alfredo Cunha.
A exposição, que começou no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, e já passou pelo Musée National d’Archéologie, d’Histoire et d’Art (MNAHA), no Luxemburgo, tem curadoria de David Santos, que produziu um texto para o catálogo onde escreve: “«A fotografia é uma forma de escrita, é a minha caligrafia», diz Alfredo Cunha. Por entre relâmpagos de convicção sobre as suas imagens, assegura-nos ainda o fotógrafo, nascido em Celorico da Beira, que nelas procura “mais a profundidade e menos a planaridade”. Deste modo particularmente discursivo, o autor assume uma outra espécie de aproximação aos parâmetros da imagem pictórica. Nas expressões de “escrita”, “profundidade” e “planaridade”, que são necessariamente também conceitos, percebemos uma convergência entre o “índice” (fotografia), o “código” (pintura) e a “linguagem” (literatura) da imagem captada. Trabalhadas entre o “instante decisivo” (como escreve Henri Cartier-Bresson) e a impressão em papel fotográfico, as imagens de Alfredo Cunha encetam esse equilíbrio para produzir o efeito visual pretendido, conduzindo o fotógrafo a uma rede que acentua a ambiguidade do estatuto da imagem, entre o documental, os seus conteúdos indexados, e uma espécie de fenomenologia do puramente formal.”, regista David Santos, Curador e Diretor Científico do Museu do Neo-Realismo.
A zet gallery volta à fotografia com mais um grande nome de referência, depois de Miguel Rio Branco, uma escolha que, para Helena Mendes Pereira, faz todo o sentido neste momento da nossa história. “A Arte não é neutra, a fotografia não é neutra, a fotografia de Alfredo Cunha não é neutra. É uma escolha e o que somos revê-se nessa escolha. Por isso, não tínhamos como não acolher esta exposição. Obrigada, Alfredo Cunha, pelas tantas estórias que são a nossa História”, refere a Diretora Geral da zet gallery.
A exposição de Alfredo Cunha estará patente na zet gallery de 19 de setembro a 26 de outubro.