A Oficina do Livro edita na próxima terça-feira, 23 de setembro, "O Urso e a Águia", de Helena Ferro de Gouveia, a história das relações atribuladas entre a Rússia e a Alemanha.
Como potência indispensável da Europa, a Alemanha vê-se cada vez mais chamada a interferir na política ocidental com a Rússia, à medida que os Estados Unidos parecem desinvestir na sua relação com a Europa e na manutenção da segurança dos europeus e num mundo em que o Ocidente perdeu uma considerável autoridade moral nas últimas duas décadas.
Para um país que só recuperou a sua soberania plena na última década do século XX, em 1990, após 28 anos dividido por uma cicatriz de betão e arame farpado, é uma missão extremamente desafiante. Além disso, nos últimos 30 anos, grande parte da opinião das elites passou de um entusiasmo cândido em relação à Rússia para uma profunda desilusão. Como aconteceu durante séculos, a Rússia continua a ser um tema sobre o qual uma discussão equilibrada é muito difícil para os alemães.
Num discurso proferido a 27 de fevereiro de 2022, Scholz proclamou uma Zeitenwende, ou uma mudança de época, e anunciou os planos da Alemanha para desempenhar um papel mais ambicioso na defesa militar em resposta à primeira invasão terrestre da Europa desde a II Guerra Mundial. Não foram só os alemães que foram apanhados de surpresa. A Europa também tomou nota das declarações do Chanceler.
"É difícil encontrar nos últimos dois séculos uma relação entre dois Estados que seja mais dramática do que a da Alemanha e da Rússia, feita de escolhas devastadoras, de medo e fascínio mútuo, de reconciliação e cooperação cultural e económica. É em Moscovo que se situa a maior embaixada da Alemanha assim como o maior Goethe Institut. Duas gerações de cidadãos da antiga República Democrática da Alemanha (RDA) cresceram com a imagem da URSS como “amiga” dos alemães socialistas. O denominado “fator alemão” beneficiou a Rússia desde o século xix até 2022, mas parece que o romance acabou."
Sobre a Autora
Helena Ferro de Gouveia viveu duas décadas na Alemanha acompanhando, enquanto jornalista, a vida política alemã. Posteriormente, após deixar o jornalismo, trabalhou em projetos internacionais de cooperação e desenvolvimento para o Governo alemão, o que a levou a viver e a trabalhar em mais de cinquenta países e em quatro continentes. Atualmente, é analista de risco geopolítico, lecturer na Porto Business School e comentadora de Assuntos Internacionais e Defesa, a sua área de especialização, na CNN Portugal. É autora de "Mulheres na Guerra" (2023) e "O Dia Que Mudou Israel" (2024).