terça-feira, 23 de setembro de 2025

As sonoridades da viola campaniça



Após o lançamento de dois temas, respetivamente Saias de Cinza e Um Dia no Deserto,o projeto RAIA lança, a 26 de setembro, o novo álbum Uádi: um disco-rio, que atravessa as margens da Raia Ibérica, feito de encontros e contaminações, onde a viola campaniça se deixa tocar por outras geografias, outras linguagens, outras mãos.
 
Uádi nasce num território povoado por aquilo a que o filósofo Timothy Morton chama de hiperobjetos — realidades tão vastas que escapam à nossa compreensão total — como o clima, os oceanos, o tempo profundo. Estão sempre à nossa volta, moldam as nossas vidas, mas nunca conseguimos vê-las por inteiro. A viola campaniça dá voz a um rio subterrâneo, invisível à superfície, mas sempre presente. A música evoca desertos que avançam, chuvas que se retraem, ciclos de abundância e escassez que ultrapassam qualquer fronteira humana. Tal como um hiperobjeto, Uádi é local e global ao mesmo tempo: fala da raia alentejana e, simultaneamente, de um planeta em mutação.



Em Uádi não há uma paisagem “pura” ou “romântica”. Há um território vivido, atravessado por rios que secam, climas que mudam, memórias culturais e vozesmcontemporâneas. A viola campaniça deixa de ser apenas símbolo de tradição intocada e transforma-se num veículo vivo , que atravessa eletrónica, colaborações e sonoridades híbridas.
Uádi mostra que a “natureza” não está fora de nós: somos parte do mesmo fluxo — do som, da terra, do clima, das tecnologias que moldam o presente.
Uádi é um canto de pertença a algo maior, imenso e misterioso, que ressoa dentro e para além de nós.

Em breve um terceiro single, intitulado O Golpe, que conta com a participação de Fio Manta.