«Céu geralmente muito nublado, com boas abertas e períodos de chuva» é uma das formulações mais utilizada pelos meteorologistas para descrever o tempo no arquipélago dos Açores. Na prática, a expressão traduz-se em prepararmo-nos tanto para chuva como para sol, no mesmo dia. Do mesmo modo, neste romance, o leitor pode e deve preparar-se para as nuvens de São Miguel, os ares do Caramulo e o clima do bairro lisboeta da Estefânia.
Sobre o livro
Um homem volta à sua terra para cumprir uma missão que lhe foi atribuída por um avô que morreu: a de recolher histórias recentes dessa ilha, a de São Miguel, nos Açores. Esta é a narrativa de um regresso aos lugares onde cresceu e um duplo diálogo: com o antepassado que lhe deixou uma herança inesperada e com o presente insular impuro, algures entre o sagrado e profano.
Um livro de histórias que se cruzam. As histórias do avô, internado na estância do Caramulo durante os anos 40 do século passado, e as personagens com as quais o protagonista se vai encontrando: um navegador francês em apuros, um traficante de droga ressentido, um stripper ruiva com anúncio no jornal, um homem que voltou para vingar uma recusa antiga, um fã de Kafka que descobriu que o escritor tinha o sonho de viver nos Açores, um casal chinês que procura a integração num arquipélago estrangeiro, alguém que caminha de madrugada com um terço na mão.
Céu Nublado com Boas Abertas é também a busca de uma identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre realidade e ficção: a literatura.
Excertos:
«Casa dos meus avós maternos, bairro lisboeta da Estefânia, defronte de uma fotografia a preto e branco do casal em pose de estúdio. Cada um a olhar na sua direcção. A minha avó sorri de uma forma meiga e juvenil, como o faz ainda aos seus noventa e poucos anos. O meu avô também sorri. Mas o seu sorriso é outro. Oblíquo, sem revelar os dentes.»
«Corro, entro em canadas que não conheço, salto muros, invado pastos, fujo de cães defila que me tentam morder as pernas. Deito-me no cascalho, agora sim olhando um céu do qual começa a cair uma chuva primeiro amável e depois ressentida, como se me lembrasse que a vida, mesmo a vida na terra onde nos fizemos, tem os seus acidentes.»
Sobre o Autor
Nascido em 1974, Nuno Costa Santos tem trabalhado em géneros diferentes, do teatro à crónica, passando pelo guião e pelo documentário. É colunista da revista Sábado e autor da série Melancómico. Céu Nublado com Boas Abertas é o seu primeiro romance.