quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

"O Fado em Nós" - Pedro Moutinho



Este novo trabalho de Pedro Moutinho chama-nos a um fado que em cada um, a nosso modo se descobre, se desvenda e se cumpre.

Primeiro, nas melodias tradicionais, que trazem o eco de tantos que as cantaram e tocaram, as emoções de quem as ouviu, os espaços diversos onde aconteceram. É nós em título e em muitas dimensões. E único, de um modo a que não somos alheios. É Pedro Moutinho. Que magistralmente nos leva a todos nesta viagem, vestida com o tempo da gente que o fado é.

Gravado no coração das memórias fadistas - o Museu do Fado - fora da convencionalidade dos estúdios, tem esse sabor especial do fado ao vivo, com todos nós virtualmente a assistir.

Traz o ritual que se cumpre em simultâneo, onde uma guitarra, uma viola e um baixo de excepção, respiram com a voz, adensam o toque quando a sentem mordaz ou audaz, gingam acentuando a ironia ou o convite ao baile da vida, ou tremem, quando depois de um antecipado silencio, ela se revela desgarradamente só.

Traz um pedido: Leva-me contigo. A todos, mas em especial àqueles para quem o fado não é uma pertença óbvia. Um pedido do fado a lembrar que ele sempre se encantou com outras ambiências musicais, que se alimenta de diferentes experiências de vida, com sentidos despertos para tudo o que acontece em nós e no mundo.

E traz um recado: Vem ao baile, chamando a própria vida a cumprir-se.

"O Fado em Nós" é isto. Vem cá de dentro. É Pedro Moutinho inspirado, maduro, eco de histórias do fado feitas nossas, quando nos sentimos delas. Em NÓS estão evocações de uma Hermínia Silva ou de um Carlos Ramos. Estão poetas de sempre, como Fernando Pessoa ou Alexandre O'Neill e, as actualíssimas Manuela de Freitas, Amélia Muge ou Mª do Rosário Pedreira.

Pedro Moutinho faz aos temas tradicionais, aquilo  que a família faz, quando nos transmite as suas características: o olhar da avó, o sorriso do tio, as mãos do pai. Reforça nessas semelhanças o que somos e o que temos de único e contemporâneo. Põe o fado ao espelho como nos põe a nós. Remete-nos para quem somos. Renova-se e renova-nos. Moderniza os nossos sentidos ao escutá-lo.

Pedro Moutinho regressou. Ouvi-lo é descobri-lo em nós. É como sermos mais uma corda tensa de guitarra, vibrando, ficando a soar por dentro. Aqui e sempre. Um clássico.