“Condição” foi a música escolhida para apresentar os Perpétua porque é a música que melhor reflecte a banda pelo facto de sintetizar as várias vertentes presentes no álbum e por ter sido a primeira que a banda compôs em conjunto, ganhando assim um lugar especial na breve história da banda. Fez sentido, sendo a primeira, ser a primeira a ser mostrada.
Tematicamente é uma música alg o introspetiva. No primeiro verso há uma tomada de consciência sobre a postura adotada pelo sujeito. Isto é invertido automaticamente na segunda metade da primeira estrofe, quando a segurança de “ter os dois pés bem assentes no chão” é substituída pela contradição nas suas frases ou a contramão do seu passo.
Perante o desgosto, quantos nunca recorremos a um pouquinho de coragem líquida? Isto está patente na segunda metade da música, culminando no refrão, em que o sujeito expressa um misto de vergonha, vulnerabilidade, desgosto e carência.
Este processo é algo que acontece pelo menos uma vez na vida a quase toda a gente, sendo também outro motivo que levou à escolha deste single.
Quanto ao vídeo que acompanha a canção, realizado por Bernardo Limas, sempre foi intenção ter algo esteticamente forte e suficientemente identitário. A escolha das salinas de Aveiro acontece precisamente por causa disso. É um sítio lindíssimo, geométrico e com cores naturais e remete automaticamente para a região de origem dos Perpétua. É um piscar de olhos às pessoas de Aveiro e um convite de visita às pessoas de fora.
O álbum Esperar Pra Ver começou a ser pensado no momento da formação da banda. Com algumas ideias já existentes, era claro que a sonoridade a seguir se situaria no âmbito daquilo a que atualmente se chama música indie. Embora tendo os elementos da banda referências muito distintas, há também artistas em torno dos quais a sua admiração gravita de igual forma, podendo-se destacar bandas como Parcels ou Men I Trust. Ao longo do ano de 2020 foi composto e gravado por todos os membros da banda, produzido, misturado e masterizado pelo Rúben e pelo Xavier, com ajuda à produção da Beatriz e do Diogo.
Estilisticamente encontram-se no álbum expressões de vários subgéneros da música indie. Nas duas primeiras músicas, “Perdi a Cor” e “Manhãs Longas”, é notório um ambiente marcadamente disco que faz lembrar nomes como os já citados Parcels ou a banda francesa L’Impératrice. Aliado a isto nota-se também a influência da música portuguesa dos anos 80, sendo possível encontrar na voz e melodias da Beatriz ecos de algo que podia ter sido cantado pelas Doce ou por António Variações. “Condição”, “Lugar” e “Dores de Cabeça” distanciam-se do universo disco e assumem-se como músicas de pop alternativo, ligeiras no ouvido e fáceis de cantar, sendo que a “Dores de Cabeça” se aproxima mais a um registo de balada que pode fazer lembrar os trabalhos de Tim Bernardes. A bridge de “Condição” traz à tona a faceta mais psicadélica da banda, que também encontra no shoegaze e no dreampop fontes de inspiração. Esta inspiração é notória em “Grilos” e “Blockbuster”, cuja sonoridade remete para nomes como Turnover ou Beach Fossils. Estas músicas vivem da atmosfera e da repetição dos riffs, fazendo-os ecoar em loop na cabeça do ouvinte. “Falei de Cor” é a wildcard do álbum. É a canção da qual não se está à espera quando se ouve as anteriores. É a mais rockeira do grupo, que nesta reta final aciona as distorções e se entrega à confusão. O álbum termina com “Brisinha”, um fecho calmo depois da erupção que é a música anterior, procurando terminar esta viagem de forma suave, deixando no ar um tom nostálgico que, avise-se já, pode ter como consequência a potenciação da vontade de ouvir tudo outra vez.
As letras do disco retratam experiências normais e mundanas de cada um. O que as inspira são experiências vividas, contadas, percebidas e imaginadas. No entanto, estas barreiras esbatem-se, deixando a cargo do ouvinte o grau de reconhecimento que procure imprimir nelas. Falam e refletem sobre conforto, crescimento, perda e todo esse tipo de sentimentos com as quais alguém é confrontado ao longo da vida, na relação consigo ou com os outros. Há sempre um tom melancólico, nostálgico, mas esperançoso e expectante transversal ao longo das músicas.
Finalmente, o álbum é um esforço de germinação. Com as raízes bem assentes, é para os Perpétua hora de descobrir para onde crescer e como florir. Bem, há que Esperar Pra Ver.
Sobre a Banda
O Diogo, o Rúben e o Xavier conheceram-se numa escola de música na Gafanha da Nazaré, em Aveiro, onde se iniciaria o percurso musical de cada um, bem como uma amizade que viria a ser a semente de onde germinaria a Perpétua. O Diogo viria a conhecer a Beatriz no ensino secundário, e foi o gosto pela música que os fez manter contacto desde então. No final de 2019 decidiram juntar-se pela primeira vez, consagrando assim o início da banda. No entanto, decidiram dar-se a conhecer ao público apenas no final de 2020.
Com uma bateria marcante, um baixo cavalgante, guitarras afundadas em reverberação, uma voz suave e teclados que cosem tudo isto em paisagens sonoras imaginativas e frescas, é nos refrões “orelhudos” e nas melodias doces que marcam pela diferença, prometendo uma jornada sonora memorável, composta e pensada no dia a dia de um qualquer alguém.
Pela impossibilidade de relatar aquilo que ainda não se realizou, a vida destes quatro feitos um pode apenas ser tida como algo por vir, como aquele dia solarengo por que se anseia sempre.