quarta-feira, 5 de junho de 2024

A história trágica e verdadeira de Manuel Fernandes Vila Real



A 30 de outubro de 1649, o escritor, diplomata e colecionador de livros Manuel Fernandes Vila Real, que recebeu de D. João IV o título de «real cavaleiro fidalgo» e que durante anos trabalhou junto das embaixadas portuguesas em França, foi preso pelo Santo Ofício em Lisboa e acusado de ler e reter «livros de hereges» e de ser judeu. Vila Real foi ainda indiciado por defender teorias e práticas contra a ortodoxia católica, nomeadamente num dos seus livros e de se mostrar contra a Inquisição nessa mesma obra. 

Três anos depois, Vila Real foi condenado. Todos os seus bens foram confiscados «para o fisco e a câmara real», foi excomungado e executado, provavelmente por garrote, num auto de fé realizado a 1 de dezembro de 1652, «no terreno do pátio da cidade de Lisboa».

No seu mais recente livro, Luís Reis Torgal, historiador e professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, recupera e analisa o caso de Manuel Fernandes Vila Real, que consultou pela primeira vez nos anos 80, com a ajuda das bibliotecárias-arquivistas Ângela Gama e Ana Maria Osório, e que recuperou em 2023, procurando dar término ao trabalho iniciado várias décadas antes.

Contextualizando o processo no tempo e no espaço, o Portugal do tempo da Restauração, o livro Vigias da Inquisição reflete também sobre o «que de mais conservador e intolerante teve a Igreja em tempo de Restauração, mas também em outras épocas em que reinou, igualmente, a intolerância, que sempre acompanhou o dogmatismo político, social e religioso», mostrando como o caso de Vila Real  é paradigmático da atuação da Inquisição portuguesa, que teve como alvo preferencial os cristãos-novos e judeus.

Vigias da Inquisição chega às livrarias a 6 de junho.

Sobre o Autor

Luís Reis Torgal, professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra – CEIS20. É Sócio Honorário da Academia Portuguesa de História. Foi professor convidado de várias universidades europeias, do Brasil e do Japão. Tem-se dedicado a diversos temas desde o século XVII ao século XX, especialmente no âmbito da História Política e das Ideias, da História da Universidade, da História da História em Portugal e da Teoria da História. Recebeu vários prémios e foi-lhe concedida, em 2016, a medalha de Mérito em Ciência pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Na Temas e Debates, publicou O Cinema sob o Olhar de Salazar (coord.), História, que História?, Essa Palavra Liberdade… Revolução liberal e contrarrevolução absolutista (1820-1834) e Brandos Costumes…. O Estado, a PIDE e as Intelectuais (coord.).