terça-feira, 28 de julho de 2020

Crónica Saúde - Joana Franco



Esta semana iremos abordar as causas, diagnóstico e tratamento da Esquizofrenia.
A etiologia da esquizofrenia é multifactorial e resulta de uma interacção complexa entre factores genéticos e ambientais.
Os factores genéticos têm uma importância relativa, sabe-se que parentes de primeiro grau de um doente com esquizofrenia têm maior probabilidade de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Por outro lado, o modo de transmissão genética da esquizofrenia não está esclarecido. Factores ambientais (como por exemplo, complicações da gravidez e do parto, infecções) que possam alterar o desenvolvimento do sistema nervoso no período de gestação parecem ter importância na doença.

As drogas ilícitas, incluindo a cannabis, também foram associadas ao desencadeamento da esquizofrenia e a sintomas psicóticos temporários.

Estudos feitos com métodos modernos de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética mostram que alguns doentes apresentam alterações cerebrais. Alterações bioquímicas dos neurotransmissores cerebrais, particularmente da dopamina, parecem estar implicados na doença.

Agora abordaremos o Diagnóstico.
O diagnóstico da esquizofrenia é clínico, através da recolha de informação obtida com o doente, familiares ou amigos, de forma a apurar os sintomas e as manifestações da doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório (exame de sangue, radiografia, tomografia, eletroencefalograma ou outros) que permita confirmar o diagnóstico da doença. Muitas vezes o clínico solicita exames, mas estes servem apenas para excluir outras doenças que podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia.

Seguidamente mostraremos formas de tratamento para a Esquizofrenia. Alguns dos objectivos do tratamento são:
Eliminar ou minimizar os sintomas;
Prevenir a ocorrência de recaídas;
Prevenir ou reduzir a necessidade de consultas ou hospitalizações;
Evitar ou reduzir efeitos secundários indesejáveis que possam resultar da terapêutica;
Obter  e manter o alívio de sintomas, de modo a que não tenham um efeito negativo na vida do doente;
Iniciar ou retomar as actividades diárias, como por exemplo trabalho, educação, autonomia, relações sociais.

O Tratamento Farmacológico na Esquizofrenia:
Tal como noutras doenças de longa duração, como a diabetes, é extremamente importante que a medicação seja tomada conforme prescrita pelo médico. Os fármacos antipsicóticos reduzem o risco de recaída e hospitalização em doentes que recuperaram de um episódio agudo de esquizofrenia. A causa mais importante da recaída é não tomar a medicação conforme prescrito (denominada adesão parcial ou não adesão). As taxas de recaída são mais elevadas quando os doentes não aderem à terapêutica e, como tal, é muito importante que as pessoas com esquizofrenia se empenhem para tomarem a medicação conforme prescrita. Os doentes devem concordar com um plano de tratamento e de prevenção de recaída proposto pelo médico. É essencial estabelecer apoio para o indivíduo, de modo a que este possa manter o plano de tratamento estabelecido. Isto envolve tomar a medicação prescrita ou receber a injecção na dose correta e à hora adequada em cada dia ou no dia estipulado (denominado adesão à terapêutica), comparecer às consultas e seguir cuidadosamente outros procedimentos de tratamento.

Os antipsicóticos, também conhecidos como neurolépticos, são os medicamentos utilizados no tratamento da esquizofrenia, essenciais  na remissão de sintomas como delírios, alucinações, comportamento desorganizado e agitação psicomotora. Actuam sobre um neurotransmissor chamado dopamina, cujo excesso provoca os sintomas positivos e desorganizados da esquizofrenia. Ao bloquear os canais receptores de dopamina no sistema neuronal, eles evitam que o excesso da substância atinja as células nervosas, reequilibrando o sistema de neurotransmissão. Esse efeito é essencial para a duração do efeito antipsicótico  a longo prazo.

O efeito terapêutico pode demorar entre 4 a 8 semanas, embora a melhoria do comportamento seja objectivada nos primeiros dias de tratamento. É fundamental que nesse período a medicação seja administrada de forma regular. O tratamento de manutenção não é menos importante, pois é capaz de evitar futuras recaídas e precisa ser mantido mesmo que a crise aguda tenha sido contornada. É comum o abandono do tratamento nessa fase, o que deixa a pessoa vulnerável a uma nova crise. O médico é o único capaz de determinar o tempo total de tratamento para cada caso, podendo variar de 1 a 5 anos ou, em alguns casos, por período indeterminado.

Os antipsicóticos mais antigos são conhecidos como típicos ou de primeira geração, possuem uma alta afinidade aos receptores da dopamina e são muito eficazes no combate à psicose.

Entretanto, a ocorrência de efeitos secundários (vulgarmente conhecidos como impregnação), principalmente do tipo parkinsoniano (tremores, rigidez, lentidão e apatia) e de discinésias   tardias (distúrbios do movimento, contracturas musculares), contribuiu para o desenvolvimento de novos fármacos, com melhor perfil de tolerabilidade. Surgiram, então, os antipsicóticos de segunda geração ou atípicos.

O primeiro deles foi a clozapina (Leponex), seguido da risperidona (Risperdal) e da olanzapina (Zyprexa). Estes fármacos diferenciam-se por terem também efeito sobre receptores da serotonina e por um bloqueio menos acentuado dos receptores da dopamina, o que contribui para uma menor incidência de efeitos secundários. São também eficazes no tratamento da psicose, com acção superior aos  típicos nos sintomas negativos e cognitivos da esquizofrenia.

Reabilitação
Os antipsicóticos possuem eficácia inquestionável nas fases agudas da esquizofrenia, prevenindo a recorrência de sintomatologia. Contudo, os sintomas negativos e cognitivos, obstáculos para que muitos possam viver uma vida produtiva e independente, mudaram pouco com os medicamentos actuais.

O tratamento psicossocial, também conhecido como reabilitação psicossocial, procura melhorar esses sintomas e promover a autonomia, a individualidade e a capacidade de socialização e relacionamento dessas pessoas, através de actividades terapêuticas que misturam arte, leitura, trabalhos manuais, música, dança, teatro, actividades físicas, reflexões e debates sobre a doença. O programa deve ser individualizado, tendo em conta as especificidades de cada doente.

 A Evolução
A evolução ou o prognóstico da esquizofrenia é tão variável quanto à própria doença. Existem doentes que têm apenas uma crise, que retomam as suas actividades e que permanecem com sintomas que pouco interferem no seu dia-a-dia. Há outros que têm maior dificuldade para retomar as suas actividades de vida diária  e que são mais dependentes de supervisão e apoio. E existem aqueles com um curso mais grave, muitas recaídas e menor autonomia.
Sabe-se que um maior número de recaídas compromete muito a evolução e as possibilidades de recuperação a longo prazo. Portanto, a prevenção de recaídas, através do tratamento regular (cumprimento terapêutico e seguimento em consulta) e abrangente que contemple as esferas bio-psico-sociais do indivíduo e de sua família, é fundamental.
Para a semana transmitirei alguns mitos sobre a Esquizofrenia.
Uma boa semana. Até lá, cuidem sempre da vossa saúde. Da vossa e da dos que os rodeiam. Procure ajuda especializada quando necessário, sem preconceito.

Apresentação Joana Franco

Chamo-me Joana Franco, tenho 32 anos, e sou natural de Geraldes, aldeia pertencente ao Concelho de Peniche.
Enfermeira de Profissão, terminei o Curso de Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil, em Lisboa, no ano de 2010.
Nos anos mais recentes abracei desafios noutros países, nomeadamente Dubai onde fiz parte um projecto na área de Turismo, e em Inglaterra, onde trabalhei como Enfermeira em “Nursing Homes”, a cuidar de Pessoas com Demência.
Em Portugal, demonstrei o meu trabalho como Enfermeira no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos e, actualmente, trabalho na Clínica Psiquiátrica de Lisboa, em Telheiras.
Sou uma pessoa que aceita novas aventuras e, como tal, aceitei o convite de escrever para o Blog ‘Cultura e não Só’, em que apresento novos pontos de vista e dicas para tornar melhor a saúde do leitor.