segunda-feira, 20 de julho de 2020

O jovem ativista que não tem medo da gigante China


No mês em que entra em vigor em Hong Kong a nova «lei de segurança nacional», chega às livrarias portuguesas o manifesto político e biografia de Joshua Wong, um dos mais jovens ativistas políticos da nossa geração e um dos cérebros por trás das manifestações pró-democracia da ex-colónia britânica. (Da Falta de) Liberdade de Expressão, escrito a quatro mãos com Jason Y. NG, foi um dos livros retirados das livrarias de Hong Kong esta semana pelo regime chinês na sequência da nova lei e conta como Wong passou de um jovem tímido que gostava de banda desenhada para ser considerado um dos líderes mais influentes do mundo pelas revistas TIME, Prospect e Forbes. Wong combina sem esforço a sua própria história com a de Hong Kong – seu sistema político, desigualdades sociais, paradoxos e idiossincrasias e a luta para obter concessões da mais poderosa autocracia do mundo. Mais do que um livro de memórias, é um manifesto em prol da democracia com um alerta que não podemos dar-nos ao luxo de ignorar: «a erosão das liberdades que tem atormentado Hong Kong está a alastrar ao resto do mundo.»

Joshua Wong foi uma criança politicamente precoce. Desde cedo que se preocupou com as desigualdades que encontrava na sociedade, na igreja e na escola, e com apenas 14 anos organizou o seu primeiro protesto estudantil, que travou uma tentativa do governo de introduzir «educação moral e nacional» nas escolas locais – uma política que ele e muitos outros alunos viam como uma lavagem cerebral furtiva. Três anos depois estava na capa da revista TIME como «a Cara do Protesto» devido ao seu envolvimento no Movimento dos Guarda-Chuvas. Fundou um partido político – o Demosistō – e uniu a comunidade internacional em torno dos protestos contra a nova lei de extradições para a China, que levaram às ruas de Hong Kong cerca de dois milhões de pessoas (mais de ¼ da população do território). Devido ao seu ativismo político foi detido várias vezes e passou mais de 100 dias na cadeia. Foi indicado para o Prémio Nobel da Paz, considerado pelo Financial Times como uma das 50 personalidades que moldaram a década de 2010-2019 e é uma inspiração para milhões de jovens em todo o mundo que lutam pelos seus direitos e pela democracia. 

Dividido em três partes, o livro explica como Wong se tornou um ativista político, reúne as cartas que escreveu enquanto prisioneiro político da República Popular da China e termina com um apelo global à união e à ação em defesa dos valores democráticos. Com introdução de Ai Weiwei – artista e ativista chinês – e prefácio de Chris Patten – último governador de Hong Kong –, (Da Falta de) Liberdade de Expressão é um livro essencial para compreendermos a atualidade política internacional e a importância da defesa dos valores democráticos em todo o mundo. Não podemos dar como garantidos direitos e liberdades adquiridos em democracia, é preciso lutar continuamente por eles. A China rejeitou as críticas internacionais à nova «lei de segurança nacional» para Hong Kong, afirmando que «não é da vossa conta». Mas é. Enquanto continuarmos calados, ninguém estará seguro. Mas com verdadeira liberdade de expressão, as nossas vozes unidas tornar-se-ão uma só.