quarta-feira, 20 de junho de 2018

Ministros do Diabo


«Quando deparei com seis sermões de autos da fé de D. Afonso de Castelo Branco, em caixa de documentos sem paginar, conservados no Arquivo Secreto Vaticano e verifiquei o seu caráter inédito, ao primeiro entusiasmo sucedeu a questão do relativo e talvez repulsivo interesse pelo conteúdo. Valeria a pena tanto trabalho de leitura e transcrição de textos plenos de retórica crivada de citações, com argumentações descabidas, senão ridículas aos nossos olhos, escritos tão distantes da sensibilidade contemporânea?» Carlos Azevedo.

Carlos A. Moreira Azevedo descobriu seis sermões de autos da fé do bispo de Coimbra Afonso de Castelo Branco (1522-1615), em caixa de documentos sem paginar, no Arquivo Secreto Vaticano. Verificando o seu caráter inédito, estudou e dá agora a conhecer estes escritos raros no século XVI, produzidos por uma figura culturalmente relevante, que parece ter sido o único pregador nos 230 anos da Inquisição a exercer esta missão por seis vezes seguidas, na sua diocese. Com os seus sermões perante os sentenciados, este servidor fiel da monarquia filipina e da autoridade romana marcou a luta do Portugal quinhentista contra o criptojudaísmo e as heresias. 
O título recorre à expressão de Afonso de Castelo Branco para classificar os judeus: “prelados e ministros do diabo”, mas atribui-o devolvido aos pregadores destes rituais. Ser “ministro do diabo” é recorrer ao discurso, ainda que erudito, para justificar injustiças e estimular ódios, em vez de argumentar na defesa dos mais frágeis e pobres e de apelar autenticamente à misericórdia e ao perdão, à convivência de diferentes visões de Deus e do mundo. 
Já disponível nas livrarias, «Ministros do Diabo» é uma obra imperdível que dá a conhecer os métodos e práticas do Tribunal do Santo Ofício e como este afetou o curso da história dos Portugueses.