domingo, 29 de dezembro de 2019

Histórias com História - Paulo Nogueira


Os Presentes de Natal

Falar de presentes de Natal é algo com uma história curta mas de grande importância e significado para a humanidade desde há muitos séculos. Para muitos, nos tempos mais recentes, é considerado algo fútil e que apenas alimenta o comércio e a economia dos países nesta época do ano, é um tema portanto um pouco discutível, dado que as opiniões divergem muito quanto ao seu significado nesta quadra natalícia. O Natal é uma verdadeira festa universal, que até mesmo em países onde a população cristã é minoria, esta quadra tem o seu prestígio e importância. É um feriado comemorado todos os anos no dia 25 de dezembro, diferente dos países eslavos e ortodoxos, que festejam o Natal no mês de janeiro. A data foi escolhida para homenagear o nascimento de Jesus, o que, para os cristãos, representa grande marco na história. Existe a tradição desde à muitos séculos da troca presentes neste dia, em Espanha a mesma tradição acontece no dia de Reis. Recuando nos tempos, desde há cerca de dez mil anos que os povos agricultores trocavam presentes, normalmente excedentes alimentares das suas produções, no Solstício de Inverno, como forma de celebrar o facto de o Inverno já estar a meio e em breve regressarem dias melhores e mais quentes. Também na Roma Antiga havia a tradição da troca de presentes, quando em dezembro os pagãos saíam às ruas para comemorar a Saturnália (festividades em hora do Deus Saturno que ocorriam entre 17 e 24 de dezembro do Calendário Juliano), trocavam presentes em forma de comemoração, nomeadamente amuletos que consideravam dar sorte para o resto do ano,  seguido de banquetes e celebrações. Quando a festa pagã foi proibida pela Igreja Católica, pois a data escolhida para comemorar o nascimento de Jesus foi em dezembro, alguns costumes pagãos mantiveram-se, e entre eles a troca de presentes nessa época do ano. Era um costume pagão e os cristãos não conseguiram suprimi-lo. Ao invés, subverteram o conceito e a oferta de presentes passando assim a simbolizar a entrega de oferendas ao Menino Jesus pelos Reis Magos. Segundo rezam os escritos, os três reis Magos, de seus nomes Gaspar, Baltasar e Belchior, representam os povos pagãos. Estes três nomes simbolizam as raças distintas, representando a universalidade da Salvação. Eram eles Belchior (representante da raça europeia) que terá oferecido ouro. Baltasar (representante da raça africana) que terá oferecido mirra. Gaspar (representante da raça asiática) que terá oferecido incenso. Outras fontes citam que talvez fossem astrólogos ou astrónomos ou até sacerdotes conselheiros da religião zoroástica da Pérsia. Eram considerados homens sábios. Eles vieram do Oriente conduzidos pela estrela de Belém. Chegaram à cidade de Belém, local de nascimento do Menino Jesus, trazendo presentes, mirra, ouro e incenso. O ouro (metal precioso) que representava a realeza, a mirra (resina de planta com propriedades anti-sépticas) era símbolo da paixão e sofrimento que Jesus iria ter ao longo da sua vida e o incenso (composto por materiais provenientes de plantas aromáticas e óleos essenciais) é oferecido a Deus, representa a divindade de Jesus. Todos os Presépios de Natal têm por tradição esta representação dos três Reis Magos com os seus presentes a Jesus.


Não se sabe ao certo quando surgiu a tradição natalícia, mas terá sido o Papa Libério (310 d.C. – 366d.C.), que o terá oficializado em 354 d.C. Mais tarde surgiu a história de Nicolau, bispo de Mira, na actual Turquia, durante o século IV, por volta de 280 d. C.. Entre outros atributos dados ao santo, ele foi associado ao cuidado das crianças, à generosidade e à doação de presentes, como saquinhos com moedas próximo das chaminés das casa. Foi transformado em santo (São Nicolau) pela igreja Católica, após várias pessoas relatarem milagres atribuídos a ele. Muitos milagres lhe são atribuídos, e grande parte deles se relacionam com a doação de presentes. A imagem deste santo acabou por ficar muito ligada a esta quadra e entrou na tradição com grande peso. A associação da imagem de São Nicolau ao Natal aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Uma série de figuras de origem cristã e mítica têm sido associadas ao Natal e às doações sazonais de presentes, este período que começa no Natal e se estende até ao Dia de Reis. Esta figura mítica tem várias designações; Pai Natal em Portugal, Papai Noel no Brasil também conhecido como Santa Claus (na anglofonia), Père Noël e o Weihnachtsmann; São Nicolau ou Sinterklaas, Christkind, Kris Kringle, Joulupukki, Babbo Natale, São Basílio e Ded Moroz. Muitos a associam a figura do Pai Natal, nos tempos mais recentes, a um símbolo de markting. No entanto em Portugal e não só, a tradição da entrega dos presentes de Natal, contada às crianças na maioria das famílias tradicionais católicas, era e ainda continuam sendo em alguns casos, o Menino Jesus, já que se comemora o dia do seu nascimentos, a adopção do Pai Natal como "mensageiro" dos presentes de Natal surge tardiamente. Tudo por questões relacionadas com a tradição e a religião. É igualmente tradição os presentes de Natal serem deixados debaixo da tradicional árvore de Natal, ou no "sapatinho" junto a uma lareira.


Nos tempos mais recentes as prendas e todo o tipo de presente são essencialmente para as crianças que deliram com o momento de rasgar o papel de embrulho e não ligam nenhuma à maioria dos presentes! Actualmente, seja por motivações religiosas ou não, essa tradição é ainda muito forte e o que contribui directamente para isso são a propaganda e o consumismo. Cresce a cada ano o número de lojas, novidades e atractivos para comprarmos e a vontade de presentear a quem amamos motiva-nos cada vez mais a consumir. Apesar disso, o que importa é a intenção do gesto de oferecer. O acto de dar um presente é uma das melhores maneiras de demonstrar apreço e carinho por alguém e talvez seja essa a razão de continuarmos, mesmo depois de séculos. Ao oferecer-mos presentes uns aos outros, podemos com esse acto, estar a doar o nosso tempo e talentos para servir o próximo, não somente no Natal, mas mais importante, durante todo o ano. Com o comércio exagerado que se foca mais o Pai Natal do que em Jesus, nós ainda podemos presentear quem amamos com prendas que tragam o verdadeiro simbolismo do Natal ao invés de apenas nos basear-mos na quantidade imposta pelo comércio e sociedade. Afinal, dar um presente é uma expressão natural de gratidão, amor, apreço e carinho. Diferentes pessoas precisam de diferentes presentes. Algumas apreciam o tempo passado com elas e os afectos, os afectos e a paz mundo que cada vez são mais precisos e importantes. Outras simplesmente um acto de serviço com algo que necessitem. Muitas somente por ter a família toda reunida e uma ceia singela à mesa as completa. O mais importante dentro de tudo isto é que nesta época do ano, aproveitamos para homenagear pessoas queridas, agradecer as gentilezas recebidas durante o ano, confraternizamos com quem faz parte de nossas vidas e que de alguma forma constroem connosco a nossa história.


Com muitos ou poucos presentes de Natal materiais, importante e fundamental é que o verdadeiro espirito natalício esteja sempre presente durante o ano inteiro!


Texto:
Paulo Nogueira

Publicação feita ao abrigo do acordo de partilha de conteúdos entre o blogue "Histórias com História" e o site "Cultura e Não Só".