quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

My Fair Lady no CCB



Eliza Doolittle (Audrey Hepburn) é uma corriqueira florista que tenta ganhar a vida nas ruas de Londres. Um dia, Henry Higgins (Rex Harrison), professor e estudioso de fonética, fica sobressaltado com o terrível linguajar, pronúncia e tom de voz estridente de Eliza, quando esta lhe tenta vender flores à saída de um espectáculo. Aceita então o desafio de transformar Eliza numa eloquente senhora da alta sociedade e fazê-la passar por duquesa, num baile de Embaixada, no Palácio de Buckingham.

Esta adaptação do musical homónimo da Broadway, que por sua vez adapta o clássico Pigmaleão, de George Bernard Shaw, trata, de uma forma irónica e humorada, a importância que a educação e o modo de falar têm na definição das relações pessoais e sociais. Apesar da história divertida e romântica de Henry e Eliza assumir o enredo principal, há em todo o filme um subtexto de crítica à perpetuidade de uma estratificação social, que se vai cristalizando de geração em geração e que se manifesta na forma de falar e nas «boas maneiras». Para melhor apresentar esta premissa, Cukor enquadra a acção na sociedade londrina, uma das mais estratificadas e antigas, onde a diferença de classes se inscreve visivelmente na normalização da linguagem verbal e não-verbal de cada estrato social. Porém, a personagem de Henry Higgins prova que esta estratificação pode ser facilmente subvertida através do ensino dos códigos sociais, evidenciando a artificialidade do status e dos consequentes preconceitos e discriminação.

No filme, Cukor procurou manter-se o mais fiel possível ao musical da Broadway, reproduzindo na íntegra os seus números musicais, devidamente integrados e costurados no argumento do filme. Cukor decidiu também atribuir o papel do Professor Higgins a Rex Harrison, que interpretara já a personagem nos palcos da Broadway. Harrison vê no filme a sua performance potenciada pelo dispositivo cinematográfico, sendo difícil ficar indiferente à sua actuação, voz e dicção impressionantes.

Audrey Hepburn tem também uma performance majestosa e inesquecível, incorporando toda a graciosidade e elegância que lhe são sobejamente reconhecidas na personagem de Eliza. Contudo, ao contrário de Rex Harrison, cujas canções foram gravadas com som directo, recorrendo à inovadora tecnologia de microfones sem fios nunca antes usada em cinema, os números musicais de Hepburn foram dobrados em pós-produção pela soprano Marni Nixon.

Com um orçamento de mais de 17 milhões de dólares, My Fair Lady foi então a produção mais cara de sempre da Warner Brothers. A recepção do público e da crítica foi ao encontro das expectativas dos produtores e o filme foi nomeado para 12 Óscares, tendo vencido 8 estatuetas – Melhor Filme, Actor, Realização, Fotografia, Direcção de Arte, Figurinos, Som e Música – e ainda hoje é um dos musicais mais premiados de sempre. Apenas a prestação de Audrey Hepburn teve uma recepção menos calorosa por parte da indústria, mas conquistou o grande público que tem unanimemente considerado este o seu papel mais inesquecível.

My Fair Lady é um inesquecível musical que ganhou 8 Óscares, incluindo o de melhor filme e é, este ano, o nosso filme de Natal. Contamos com a vossa colaboração na divulgação de mais um filme apresentado que integra o ciclo Belém Cinema.

CCB ▪ 29 dez ▪ domingo ▪ 16h00 ▪ Grande Auditório