sábado, 25 de janeiro de 2020

Crónica "Sobre isto e aquilo" - Deolinda Laginhas


Imaginem…

Imaginem que vivem numa cidade como tantas outras, mas esta com especial preocupação pela segurança dos seus habitantes. 

Sempre tendo em vista o bem maior dos seus concidadãos, as autoridades desta cidade criaram um programa capaz de avaliar de forma preventiva, quais as pessoas da comunidade que têm um risco mais elevado de se tornarem delinquentes, vitimas de abusos sexuais ou de violência doméstica, de abandono escolar.

Este sistema é alimentado de forma ininterrupta pelas informações canalizadas por todas as instituições públicas: polícia, hospitais, serviços de segurança social e outros de especial relevância. O programa de computador analisa e cruza toda esta imensidão de informação e dados pessoais, por forma a traçar um perfil de cada cidadão e avaliar o seu grau de perigosidade (na verdade, “só” um quarto da população é sujeita a esta avaliação). O método adoptado permite identificar situações de urgência social de uma forma muito mais célebre e eficaz do que o tradicional acompanhamento feito pelos técnicos no terreno. 

Definido o quão perigoso é o indivíduo, é-lhe atribuída a respectiva pontuação, classificada de 1 a 100.

As "pessoas de bem" desta cidade, podem sentir-se mais protegidas porque todas as “maças podres” estão identificadas e controladas. 

Agora imaginem que são crianças, nascidas num dos bairros problemáticos objecto destas intervenções. Imaginem ainda, que por um azar foram injustamente identificados como potencialmente perigosos, imaginem que todas as vossas acções futuras vão ser analisadas à luz deste evento passado: emprego, vida familiar, vida social, participação em eventos públicos, manifestações….  

Acontece, que esta não é uma situação imaginária. Este programa existe e está em execução numa cidade inglesa. Em Bristol, esta foi a solução adoptada, mas há uma variedade imensa de programas idênticos em execução por esse mundo fora. 

Se na sua génese, está a legitima preocupação de prevenção da criminalidade e de outros flagelos sociais, não posso deixar de me questionar se não estamos a caminhar para um sistema de castas sociais, impeditivo da evolução individual e social do indivíduo e consequentemente, imensamente discriminatório. 

Apresentação Deolinda Laginhas

O meu nome é Deolinda Laginhas, 47 anos.
Desde sempre apaixonada pelas relações internacionais, área em que inicialmente me formei, descobri posteriormente o direito, tendo-me licenciado em solicitadoria, profissão que tenho vindo a exercer.
Sendo as minhas várias áreas de interesse, indissociáveis na minha forma de ver o mundo, procuro nesta crónica falar “sobre isto e aquilo”, procurando temas que pela sua actualidade e importância legal ou social mereçam aqui ser abordados.