quarta-feira, 15 de março de 2023

Viver as coisas para um dia serem escritas



Dando continuidade à publicação da obra da Prémio Nobel Annie Ernaux, Livros do Brasil edita Memória de Rapariga. Um magnífico testemunho sobre crescimento, desejo e vergonha, pelas mãos da mestre da escrita memorialística.
 
Como pôde a filha de um casal de merceeiros de uma pacata localidade tornar-se na mais renomada autora francesa da atualidade? Qual o rastilho que levou uma jovem sem grandes sonhos ou esperanças, sem ambições de produção narrativa, a assumir no papel o tom confessional tão único e que a tantos leitores toca? Está tudo explicado em Memória de Rapariga, o título de Annie Ernaux que a Livros do Brasil agora publica. Foi graças às experiências duras revividas nestas páginas que a autora fez de si um ser literário, «alguém que vive as coisas como se elas existissem para um dia serem escritas». No presente caso, tal exercício revelou-se longo e doloroso: durante duas décadas, a referência «58», aludindo ao ano do verão destes acontecimentos, constava entre os seus projetos de escrita, «o texto permanentemente em falta, sempre adiado, a falha inqualificável». Mais dez anos seriam necessários para que a primeira meia dúzia de páginas ganhasse forma e, outros tantos, para a edição final. Tudo somado, uma vida. Aqui se narra a pulsão sexual dos 18 anos, o escárnio implacável de que foi alvo, a incerteza quanto ao futuro profissional e familiar, a bulimia silenciosa, a ânsia por liberdade, a descoberta de um novo mundo, ou seja, a desconstrução da jovem que um dia foi.

O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 23 de março.

Sobre a Autora

Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura.