sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Está quase a começar - Festival Rescaldo 2016 - 19 a 27 de Fevereiro


A 9.ª edição do Festival Rescaldo decorre até ao próximo dia 27 de Fevereiro em dois dos mais importantes pólos culturais da cidade, a Culturgest e a Galeria Zé dos Bois.

Este ano a programação dedica-se não só à divulgação de valores emergentes, com o habitual destaque a inovadores talentos da música nacional, mas também ao coroar de artistas cujas carreiras se têm fortificado através da expansão e reconhecimento internacional. Promovem-se ainda colaborações musicais inéditas, como é o caso dos psicadélicos Black Bombaim que partilham o palco com o saxofonista alemão Peter Brötzmann num dos mais aguardados concertos do festival.

O Rescaldo tem hoje na Culturgest, ao som da guitarra eléctrica de Filipe Felizardo. O lisboeta, que em 2012 cunhou a primeira edição da então recém-criada Shhpuma, evidencia no seu disco mais recente, Volume IV – The Invading past and other dissolutions, um notório crescimento da sua busca pessoal por uma voz única em torno dos blues e do que se convencionou chamar “american primitivism”. 

Na mesma noite, sobem ao palco os OZO, duo que junta o piano e a formação clássica de Paulo Mesquita com o background enquanto baterista dos reconhecidos Peixe:Avião de Pedro Oliveira. Herdeiros de um género que pode ser designado como “chamber post-rock”, demonstram no seu A kind of Zo, também ele editado pela Shhpuma, uma paixão pela expressividade electroacústica.

Amanhã dia 20 ainda no Pequeno Auditório da Culturgest, o trio de cordas Timespine do qual fazem parte Tó Trips, Adriana Sá e John Klima, remete para a tradição hindustani, para a kora oeste-africana, para o koto japonês e para a tradição de seis cordas do sul norte-americano. De seguida, sobe ao palco Norberto Lobo, guitarrista prodigioso que continua a surpreender a cada disco e a cada concerto, numa constante evolução, criando melodias e sons que não poderíamos associar a mais ninguém.

A semana seguinte começa na Galeria Zé dos Bois com Acid Acid a abrir o dia 25 de Fevereiro. Criada a partir de uma guitarra, de um sintetizador e de samples escolhidos criteriosamente, a sonoridade deste projeto do radialista Tiago Castro tem como referências o psicadelismo, os ensinamentos sonoros das décadas de 60 e 70 e o krautrock alemão. A fechar a noite, os Plus Ultra, poderoso trio formado por Gon (Zen), Kino (Ornatos Violeta) e Azevedo (Mosh), que em 2015 editou uma k7 pela emblemática Lovers & Lollypops e que pratica um rock de fação sludge com um balanço funk. Uma casta única de suor e intensidade incomparáveis.

O dia 26 de Fevereiro marca o regresso do festival à Culturgest, desta feita no novo espaço da Garagem, com os Papaya. O super-grupo da cena indie nacional composto por Ricardo Martins, ex-Lobster, na bateria, Óscar Silva, o senhor Jibóia, na guitarra, e Bráulio Amado, dos Adorno, na voz e baixo, leva a palco canções curtas e incisivas, num género que se aproxima do pós-punk com um certo ideal de tropicalismo. 

Aguardada com um certo frenesim,  é a inédita colaboração dos já consagrados Black Bombaim com um autêntico ícone do free-jazz, o saxofonista alemão Peter Brötzmann. Apesar do salutar estatuto galopante da banda barcelense no circuito europeu e mundial da fação mais psicadélica do rock instrumental, a verdade é que Peter Brötzmann, soprador violentíssimo e decano do jazz mais explosivo que o mundo já conheceu, é figura maior em qualquer palco que pise, seja com que companhia for. Esta será, sem dúvida, uma noite muito especial.

O último dia do festival, 27 de Fevereiro, soma três concertos na mesma sala, a Garagem da Culturgest. Os carismáticos portuenses HHY & The Macumbas trazem consigo o habitual aparato cénico para mais uma verdadeira celebração ritualista, uma sessão de voodoo de proveniência geográfica incerta, feita de uma feliz conjugação do digital e do profundamente orgânico. São, definitivamente, das mais originais e bizarras criações que já se puderam testemunhar em palco. 

De seguida, Pedro Pestana explora as infinitas possibilidades de uma guitarra no seu projecto Tren Go! Soundsystem que se faz acompanhar das projeções de Slide Jane, e para finalizar, os Gala Drop, banda de respeitável percurso musical de cerca de uma década de felizes reinvenções, são hoje verdadeiros pontas-de-lança da mais aventureira e bem-conseguida música a ser feita em Portugal. Estreiam-se com renovada formação e encerram o Rescaldo num momento ímpar do seu percurso, num concerto absolutamente imperdível.