segunda-feira, 26 de novembro de 2018

No âmbito das Comemorações do centenário do nascimento do encenador Miguel Franco, a Gradiva edita peça emblemática O Motim


Miguel Franco nasceu em Leiria em 1918, fez teatro amador na sua cidade, sendo várias vezes premiado como encenador e como actor. 

Peça publicada em 1963 e levada à cena a 5 de Fevereiro de 1965 no Teatro Avenida, pela companhia do Teatro Nacional D. Maria II, este texto histórico tem como tema uma sublevação dos homens do Porto contra a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que, de insignificante agitação, foi considerada rebelião formal e punida pronta e injustamente por ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo pela condenação à morte de 30 cidadãos que alegadamente teriam participado no motim. 

O dramatismo da peça atinge o seu apogeu com o desespero crescente dos acusados, que, depois de um momento de ingénua perplexidade, compreendem com desalento que serão injustamente condenados à morte. A coragem com que um dos acusados, Tomás Pinto, recebe a sentença cruel impõe-se como modelo de dignidade e de resistência, o que explica a proibição de exibição da peça pelo regime salazarista após a sua segunda representação.

Esta é a situação – desenrolada no século XVIII – a partir da qual Miguel Franco constrói uma alegórica vigorosa e admirável peça de teatro. Grito de liberdade, protesto contra todas as tiranias, tocando profundamente o leitor ou o espectador, O Motim é uma obra intemporal.

Editado originalmente pelas Publicações Europa-América na colecção icónica «Os Livros das Três Abelhas», a peça foi então considerada pelo exigente crítico João Gaspar Simões «uma das obras mais importantes da dramaturgia portuguesa moderna».

Miguel Franco foi considerado por Luiz Francisco Rebello, na História do Teatro em Portugal, o representante mais importante da dramaturgia histórica na década de 1970.

Sobre o Autor

Miguel Franco (Leiria, 1918-1988) foi actor, encenador e dramaturgo. Desenvolveu o teatro na sua cidade natal, através da recriação do Grupo de Teatro Miguel Leitão, de que foi director e encenador. A partir de 1950, com a apresentação, por todo o país, da peça Tá-Mar, de Alfredo Cortez, o Grupo de Teatro Miguel Leitão passa a    destacar-se na dinâmica do teatro amador em Portugal, sendo ainda de destacar a divulgação das obras de Gil Vicente, um pouco por todo o país. Depois, ainda com Franco como encenador, o grupo montou a peça de Bernardo Santareno, O Duelo, cuja estreia seria impedida pela censura.

Como dramaturgo, Miguel Franco é considerado o mais importante da década de 1970, na categoria da chamada Dramaturgia Histórica, segundo a História do Teatro em Portugal, de Luiz Francisco Rebello. Da sua obra fazem parte O Motim, A Legenda do Cidadão Miguel Lino, O Capitão de Navios, Visita Muito Breve, tendo deixado várias obras por terminar, de que se destaca Leonor Fonseca Pimentel.
Actor de cinema a partir da década de 1960, participou em cerca de dez películas, nomeadamente Crime de Aldeia Velha (1963), O Trigo e o Joio (1964) e Lotação Esgotada (1972), de Manuel de Guimarães, Domingo à Tarde (1966), de António de Macedo, O Cerco (1970) e Vidas (1984), de António da Cunha Telles, A Fuga (1976), de Luís Filipe Rocha, O Rei das Berlengas (1978), de Artur Semedo, e Manhã Submersa (1980), de Lauro António.

Ainda em Leiria, criou no Ateneu Desportivo de Leiria, de que era igualmente director, um espaço de conferências a que chamou Sexta-feira à Noite, no qual intervieram, entre outros, Bernardo Santareno, Rogério Paulo ou Luiz Francisco Rebello. A edilidade local viria a atribuir o seu nome ao Teatro Miguel Franco, equipamento cultural construído em 2003, nas instalações do velho Mercado de Sant'Ana.