quinta-feira, 19 de março de 2020

A oratória dos mansos de Jorge Melícias



Um conjunto de poemas inéditos e uma rigorosa reunião da poesia já publicada pelo autor no novo título da colecção elogio da sombra.

Chega às livrarias de todo o país a oratória dos mansos, de Jorge Melícias, segundo volume do Ano 2 da elogio da sombra, colecção de poesia publicada pela Porto Editora com curadoria de Valter Hugo Mãe.

Para lá de uma exigente reunião da poesia do autor, a oratória dos mansos conta também com um livro de inéditos, eu morrerei deste século às mãos de quem?. Composto por sonetos, este livro é descrito por Valter Hugo Mãe como "surpreendente poemário, descolado do poeta que foi, sem se negar, dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático".

Para o curador da colecção, a obra de Jorge Melícias é como "(…) uma fúria concêntrica, reduzindo o espectro do que é possível dizer para abarcar apenas uma essência de pendor utópico e já tão eloquente quanto louca".

Além da sua extensa produção poética, Jorge Melícias tem também sido responsável por traduzir para português a obra de vários autores, entre os quais Saint-John Perse, Leopoldo María Panero, Rosario Castellanos ou ainda Martín López-Vega.


Sinopse
A obra de Jorge Melícias é uma fúria concêntrica, reduzindo o espectro do que é possível dizer para abarcar apenas uma essência de pendor utópico e já tão eloquente quanto louca. A visão lúcida do sentido do mundo é inevitavelmente perto do abismo, onde tudo se perde, a começar pela glória do conhecimento. Conhecer e ignorar encontram-se, estados iguais, como condenação de regresso ao início de todas as coisas ou confirmação de imprestabilidade.

Agora que reúne a sua obra na mais severa e rigorosa edição, Melícias junta dois inéditos, onde adensa e depura o que já reconhecemos, com "a oratória dos mansos", e denuncia uma inversão, com "eu morrerei deste século às mãos de quem?". Neste último e surpreendente poemário, descolado do poeta que foi, sem se negar, dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático. Nunca se desmascarou tanto. Jogando com a fantasia e permitindo que esta seja sincera: uma mentira ou ilusão, um artifício, e já nunca uma captura da voz de Deus.

Os poetas são feitos de sua tese e seu contrário. Nem que a perversão do que escreveram fique apenas nas mãos de quem os lê, o certo é que essa perversão é parte da obra, pressentida no primeiro vocábulo. Agora, Jorge Melícias toma em sua própria mão tal ofício. Aqui vai o verso e seu perverso. No fundo, o que sempre se pressentiu, porque nenhuma utopia deixa de estar à mercê da ternura e da corrupção. Assim a vida.
Valter Hugo Mãe