sábado, 29 de fevereiro de 2020

Crónica "Sobre isto e aquilo" - Deolinda Laginhas


A graça dos números

Só hoje tive conhecimento das últimas declarações da senhora Directora Geral da Saúde,  Graça Freitas, e confesso que, acordar com a possibilidade de Portugal ter um milhão de infectados pelo novo corona vírus, me levou a um despertar muito mais rápido do que me é habitual ao sábado.

Mas nada de pânico. Graça Freitas esclarece, que só 20% destes, serão considerados graves,  e apenas 5% casos serão críticos, estimando-se ainda, que destes últimos, só 2,4% venham a ser fatais. No pior dos cenários, na semana mais crítica do contágio, o número de infectados não deverá ultrapassar os 21.000, e destes, só 1700 deverão ter necessidade de hospitalização.

Sou péssima em tudo o que tenha relação com números e cálculos matemáticos, mas perante este cenário, comecei a fazer algumas contas de cabeça: Ora, se Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, estamos a estimar que 10% da população venha a ser infectada. Por outro lado, tanto quanto se julga saber, a província chinesa mais afectada por este surto, tem 50 milhões de habitantes, sendo que o total de infectados na China ronda os 80.000. Ou seja, considerando só a província de Wuhan, estamos a falar de 0,16% da população...

Não obstante, a diferença percentual, a China, isolou milhões de pessoas, deslocou milhares de profissionais de saúde, construiu hospitais num tempo inimaginável, adoptou medidas de preventivas e impediu pessoas de saírem do país. 

Por cá, apesar do cenário traçado por Graça Freitas, temos 2000 camas hospitalares disponíveis para os eventuais 10% de infectados e profissionais de saúde sem qualquer orientação ou formação específica. 

Mas nada de alarmismo, a senhora Directora  Geral da Saúde, veio já esclarecer que não é uma previsão, mas antes uma cenarização como se faz para uma gripe. A mim causa-me alguma estranheza que se organize o SNS para o mesmo cenário, como se de uma gripe se tratasse, desconsiderando, que a “gripe” em causa, já levou a que países fechassem fronteiras, milhões ficassem de quarentena, empresas suspendessem produção, e que se registasse a maior queda na bolsa desde a crise financeira de 2008.

Continuo a não perceber. Mas deve ser por não entender nada de números.

Apresentação Deolinda Laginhas

O meu nome é Deolinda Laginhas, 47 anos.
Desde sempre apaixonada pelas relações internacionais, área em que inicialmente me formei, descobri posteriormente o direito, tendo-me licenciado em solicitadoria, profissão que tenho vindo a exercer.
Sendo as minhas várias áreas de interesse, indissociáveis na minha forma de ver o mundo, procuro nesta crónica falar “sobre isto e aquilo”, procurando temas que pela sua actualidade e importância legal ou social mereçam aqui ser abordados.