quinta-feira, 7 de março de 2024

Entrevista - Miguel Leonardo autor de "Pena Humana"



O Cultura e Não Só esteve à conversa com o escritor, poeta, ensaísta, realizador e guionista, Miguel Leonardo a propósito do lançamento da sua mais recente obra literária, "Pena Humana", um livro ímpar que conta com vários estilos literários e ilustrações de Luís Silveirinha.

Cultura e Não Só (CNS): Lançou o livro "Pena Humana", fale-nos um pouco sobre esta obra....
É um livro que contém poesia, textos, pensamentos, imensas vozes.

CNS: De onde surgiu este nome "Pena Humana"?
O nome não foi muito difícil de procurar porque adoro Mário Cesariny de Vasconcelos e a ideia surgiu de um livro deste autor chamado "Pena Capital", mas este "Pena Humana" não surgiu apenas porque havia um livro do Mário Cesariny, surgiu também devido a guerras que se estão a viver na Europa e na Ásia, guerras de fome na Ásia, e ao enorme declínio do nosso país.

Temos um país que ao longo de 50 anos de democracia se tornou numa democracia utópica, mas quem quer viver essa democracia tem de ter dinheiro para habitação, para fazer cultura, e hoje em dia só se é patrocinado pela cultura quem tem mecenas, e os mecenas são muito importantes para os artistas em Portugal.

Esta "Pena Humana" fala sobre esses mecenas, fala sobre o declínio da poesia em Portugal, e é preciso fazer uma revolução na poesia e na escrita e mostrar às pessoas que a escrita também tem uma evolução.

Este livro fala também da decadência humana que está a surgir no nosso país.

CNS:  Referia que é necessário fazer uma revolução na poesia e através da poesia, no entanto, este é um género literário que não alcança muitos leitores, assim sendo como é que se faz esta revolução?
A revolução faz principalmente na prosa, mas acima de tudo na literatura, nas suas várias vertentes como prosa, romance, ficção, poesia, ensaio, etc.

Um escritor é um realizador e um poeta é um actor...

CNS:  Explique-nos um pouco mais o significado dessa frase: "Um escritor é um realizador e um poeta é um actor".
O poeta não passa por ser aquilo que é o escritor.

O poeta já é o escritor quando o escritor o desenhou, se o escritor é o realizador o poeta é o actor, é importante sermos o actor dentro do nosso livro.

Nós temos vários escritores hoje em dia que não são realizadores dos seus próprios livros, porque os livros transformaram-se numa tamanha decadência, em que tudo é muito bonito e muito belo, fazem o que as editoras mandam, e aí deixam de ser realizadores deles mesmos.

Por outro lado, os poetas são diferente. Para se ser poeta é preciso ter-se sensibilidade, melancolia, alegria.

O escritor e o poeta nunca podem ser os dois a mesma coisa,

E como é que se faz a revolução na poesia e na literatura? Fazendo renascer aquilo que já foi feito.

CNS:  De que forma é que a sua escrita é influenciada pelos actuais acontecimentos vividos em Portugal e a nível Global?
Neste "Pena Humana" fiz um preâmbulo, onde refiro "que a verdade é uma minúscula sombra que saiu da maré, quem nos iniciou foram os pescadores, cuidado hoje terás marés complicadas" "ninguém sabe a existência da magnitude um sonho até lutar um dia pela suposição o mar é cheio, a alternativa qual será? (....) a porcaria que fizemos hoje será a bodega que iremos comer o individuo que fez asneira não a corrige e pede apenas desculpa, e não merece ser professor a humanidade estará perdida, a humanidade sempre esteve perdida"

A humanidade sempre esteve perdida desde quando apareceu na pré-história, nós evoluímos, mas somos animais, apesar de sermos racionais pertencemos a uma cadeia de animais, e qualquer pessoa tem capacidade de matar e destruir, e a "Pena Humana" é isso, é pena à humanidade, ao ser humano que é um animal, mas que, ao mesmo tempo se pode tornar irracional.

Eu falo sobre o mundo, sobre o razão pela qual a história atrasou-nos tanto que pós-revolução industrial temos um problema estrutural que é o aquecimento global.

CNS:  Fale-nos um pouco das ilustrações de Luís Silveirinha presentes neste "Pena Humana".
O Luís é Silveirinha é professor, pintor e ilustrador, trabalhou com o Válter Hugo Mãe, tornou-se um amigo.

Eu seleccionei nove poemas e ele fez nove ilustrações, mas houve uma ligação muito boa entre nós. Notará que a ilustração se interliga muito bem com o livro, porque o Luís fez a sua leitura e referiu numa das apresentações deste livro que os meus poemas falavam mais do que mil imagens, apesar de eu não concordar porque existem ilustrações do Luís que valem ouro, é como se o poema fosse uma legenda da ilustração.



CNS:  O Miguel começou a dedicar-se à escrita desde muito cedo, fale-nos um pouco do seu percurso.
Quando tinha 12 anos comecei a escrever contos, e aos 16 anos fundei o primeiro movimento poético a convite do Luís Oliveira, "Movimento Ultra-Abjeccionista", publiquei a minha primeira obra com 26 anos, e esta "Pena Humana" faz parte deste movimento a partir do momento em que foi publicada

CNS:  Além de escritor o Miguel é também realizador fale-nos dessa experiência.
Fiz o meu primeiro filme, O Rapaz Que Pensava Demais, um filme de ficção na onda do cinema experimental Avant-garde, escrevi o Script e neste momento tenho uma longa-metragem terminada que estou a aguardar respostas de um realizador com quem irei trabalha como guionista.

CNS:  No entanto, fez um documentário que irá ver a luz do dia brevemente correcto?
Sim, o "Som da Ditadura — 50 Anos de Abril" que irá estar disponível brevemente.



CNS:  Que livro leu recentemente ou está a ler de momento?
Acabei de ler "As aventuras de Artur Gordon Pym" de Edgar Allan Poe, e iniciei agora "Pão com Fiambre" de Charles Bukowski.

"Pena Humana", editado pela Poética Edições está à venda online e nos locais habituais.

Entrevista conduzida por Rui Cardoso em exclusivo para o "Cultura e Não Só".