terça-feira, 16 de abril de 2019

Em "Demência" os dramas da violência doméstica são explorados sem benevolência nem lamentos


Elogiado e alvo do desejo dos leitores, o romance de estreia de Célia Correia Loureiro ganha um novo fôlego, oito anos após a primeira edição.  
Com apenas 21 anos, Célia Correia Loureiro publicou, em 2011, o seu primeiro romance, Demência, uma história de violência sobre mulheres que deixou uma marca em todos os que a leram e que regressa agora às livrarias, com o selo da Coolbooks, numa edição revisitada, que promete surpreender e conquistar novos e antigos leitores. 

Embora tenha começado a ser escrito há mais de dez anos, este romance podia ser motivo de reportagem de uma das mais recentes edições de um jornal ou programa informativo, não fosse a violência doméstica um dos temas que dominam tanto a atualidade noticiosa como a trama de Demência. 

Letícia era, até matar para sobreviver, vítima de um marido agressor. Olímpia é a sua sogra, mãe de um filho único, desejado e querido, e também ela vítima: de um homem violento no passado e de demência no presente. As duas reencontram-se quando a primeira regressa à pequena aldeia onde nasceu para prestar assistência à sogra e enfrenta a hostilidade dos aldeões, que não lhe perdoam pela morte do marido. 

Determinada a não perpetuar a sua condição de vítima, agora da marginalização e assunção de culpa imposta pelos aldeões, Letícia procura encontrar o seu espaço na comunidade, enquanto ajuda Olímpia a fazer as pazes com o presente. Nas relações que deixaram no seu passado, as duas mulheres conquistam a aceitação e encontram um futuro. 

Através das conturbadas vivências de Letícia e Olímpia, Célia Correia Loureiro confronta os leitores com um Portugal inflexível, hermético, por vezes ignorado, e que continua a castigar as vítimas de violência. 

Sobre a Autora

Célia Correia Loureiro nasceu em Almada, em 1989. É Guia-Intérprete Nacional e Técnica de Turismo. Fala Italiano, Inglês e Francês. Gosta de gatos e de crepes com Nutella. De todas as cidades que visitou, é por Siena que morre de amores. De todos os autores que leu, destaca John Steinbeck por As Vinhas da Ira, e está sempre disposta a dispensar mais quatro horas da sua vida ao visionamento de E Tudo o Vento Levou. Demência foi o seu primeiro romance publicado, em 2011. É um livro que continua a ser-lhe muito próximo, por ser um grito de revolta contra as circunstâncias da mulher portuguesa no século XX, e da mulher ainda vulnerável, isolada e silenciada pelos bons-costumes, no mesmo contexto de ruralidade, em pleno século XXI.